Cerca de 30% das emissões de dióxido do carbono resultante das atividades humanas vêm da agricultura, incluindo-se nessa conta as emissões indiretas do desmatamento e das mudanças no uso da terra, além da produção de fertilizantes e a refrigeração de alimentos. “A necessidade de mudar o sistema de produção para adotar um modelo agrícola de baixo carbono e oferecer alimentos seguros, abre um conjunto de oportunidades de inovação para o país”, afirma o chefe da Embrapa Meio Ambiente, Celso Manzatto. Ele explica que isso significa fazer uma gestão de agricultura mais eficiente e planejada para adequar o conhecimento existente aos solos e climas tropicais e criar incentivos por meio de políticas públicas e recursos financeiros para a adoção dessas medidas pelo produtor rural.

“O fato de ter cobertura vegetal e riquezas naturais não vai nos garantir ser um país importante na área agrícola se não tivermos um diferencial significativo na inovação tecnológica”, diz Manzatto. “Além disso, o produtor rural que investe na conservação dos recursos naturais, com custos adicionais de produção, deve ser de alguma forma recompensado.” Ele cita algumas áreas promissoras para iniciativas e práticas verdes: aumento da eficiência de práticas convencionais para redução do consumo de insumos escassos, caros ou ambientalmente danosos; desenvolvimento de insumos biológicos e novos fertilizantes, controle de aplicação de agrotóxicos, sistemas de cultivo e de pecuária com redução de emissões de gases do efeito estufa e aumento da eficiência energética na produção.

“São áreas que extrapolam a engenharia agrícola e envolvem a indústria química, biologia e genética entre outras”, diz. Manzatto ressalta também que o desenvolvimento de novas tecnologias no campo vão ao encontro do redesenho do agroecossistema, tendo como base um novo conjunto de processos que levam em conta o ordenamento territorial, a valoração e pagamento de serviços ecossistêmicos, o incentivo à produção orgânica ou de base ecológica e o aproveitamento da biodiversidade.

O pesquisador lembra os projetos no combate ao aquecimento global financiados pelo Programa ABC do Ministério da Agricultura para facilitar a difusão de práticas sustentáveis entre produtores rurais como um incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias. O programa oferece R$ 2 bilhões em financiamento para ações relacionadas ao plantio direto na palha, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pastagens degradadas e o sistema de integração lavoura-pecuária-florestas, que contribuem para a preservação das áreas de produção. Outra área estratégica para o país é o desenvolvimento de cultivos mais resistentes às intempéries, como a seca, principal ameaça ao agronegócio brasileiro, ou mais adaptados às mudanças climáticas.

Entre as áreas mais desenvolvidas em termos de sustentabilidade está também a tecnologia de plantio de cana-de-açúcar e de produção de etanol, que acabou resultando nos carros flex, destaca Jacques Markovitch, da Faculdade de Economia e Administração da USP.

Os projetos de melhoramento da planta conduzidos pelo Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen) visam aumentar a produção de combustível e de biomassa com o menor impacto ambiental possível. Incluem uso adequado do solo, da água e redução das emissões de poluentes. “Além disso, já é possível pesquisar em laboratório uma cana transgênica com mais sacarose ou menos lignina e observar avanços expressivos no pré-tratamento do bagaço para produção de etanol de eficiência superior”, lembra o economista.

Alguns empreendedores começam a desenvolver produtos baseados na biodiversidade, como chama a atenção o coordenador do projeto inovação e sustentabilidade na cadeia de valor do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGVCes), Paulo Branco. Ele dá como exemplo a Terpenoil, empresa de tecnologia orgânica para limpeza e lubrificação com base nos terpenos da laranja; e a Atina, de solução de rastreabilidade e formalização da cadeia produtiva de bisabolol de candeia com uso na indústria de cosméticos. As duas empresas foram consideradas referência de inovação e sustentabilidade como fornecedores pelo projeto em 2012 pelo FGVCes.

Fonte: Valor Econômico – Por: Martha San Juan França