O Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT) encaminhou, na tarde de ontem, 8 de novembro, ofício à presidente da Funai, Marta Maria do Amaral Azevedo, e ao superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, Cesar Augusto Martinez, solicitando informações sobre o que ocorreu ontem entre policiais e indígenas durante a Operação Eldorado.
A operação tinha mandados judiciais para a desarticulação de uma organização criminosa dedicada à extração ilegal de ouro e posterior comercialização no Sistema Financeiro Nacional (SFN). Parte da extração ilegal ocorria dentro de terras indígenas.
O incidente ocorreu no rio Teles Pires, na região norte de Mato Grosso, próximo à divisa com o Pará, durante o cumprimento dos mandados judiciais na área da Terra Indígena Kayabi. Até o momento as informações são de que seis índios foram feridos à bala e dois policiais federais com ferimentos causados por flechas.
Indígenas mundurukus denunciaram publicamente que um índio foi morto, mas até agora a informação não foi confirmada pelas autoridades. Desde as primeiras informações sobre o conflito, o Ministério Público Federal está em contato com as coordenadorias regionais da Funai em Mato Grosso e no Pará.
Nos ofícios encaminhados por fax, o procurador da República Rodrigo Timóteo da Costa e Silva pede, com a máxima urgência, que os representantes dos dois órgãos prestem as informações oficiais atualizadas sobre a situação na região e as providências adotadas.
Indígenas Munduruku denunciam violência da Polícia Federal
Conforme informações repassadas por indígenas do Posto Indígena Teles Pires diretamente para os indígenas parentes, na sede do município de Jacareacanga, ocorreu na aldeia Teles Pires intervenção de agentes da Polícia Federal, para dar cumprimento a Operação denominada Eldorado, que visa conter e paralisar a atividade garimpeira na região.
Uma equipe composta por dezenas de policiais chegaram à aldeia por volta das oito horas do dia 7 de novembro, fortemente armada, conduzida por um grande aparato de transporte que consistia em helicóptero. Quando ocorreu o sobrevoo de helicóptero, que causou pânico na aldeia com parte da comunidade embrenhando-se na mata, ocasião em que a aldeia ficou quase vazia. Ao verem pessoas estranhas invadindo a aldeia, os guerreiros se manifestaram mesmo sem esboçar ameaça em defesa dos seus, com simples armas artesanais da cultura indígena servindo de proteção para o grupo tribal, ato seguido o forte aparato policial deflagrou vários tiros em direção aos indígenas, nesse momento ocorrendo reação por parte desses que desferiram flechadas contra os invasores resultando em muitos indígenas feridos com balas de borrachas e seis desses com projéteis reais.
Pelo lado dos policiais registra-se a informação de um delegado, não confirmada pelos indígenas, que foram atingidos quatro policiais com flechadas, entretanto não ocorreu vítimas fatais, os feridos foram deslocados para a cidade de Alta Floresta.
A invasão na aldeia provocou confusão entre os índios que não sabiam da operação e nunca tinham visto tanto aparato de guerra, com o helicóptero da PF jogando às proximidades da aldeia bombas provavelmente de efeito moral e muitos tiros o que ocasionou pânico entre os indígenas, com muitos idosos na correria ou em fuga, e ainda crianças desesperadas diante da violência que foram alvos.
Foi confirmado a morte de um indígena, Adenilson Kirixi Munduruku, morto a tiro pelo delegado da Polícia Federal, segundo outro indígena que estava perto dele, os policiais não quiseram conversar com ninguém, o delegado acertou e deu vários tiros no peito do indígena, mesmo ele sem defesa, atirou até dentro da água.
A aldeia está sitiada pela PF, que controla a comunicação via rádio não deixando os indígenas se comunicarem. Essas informações foram repassadas por dois indígenas que fugiram do cerco chegando até uma aldeia próxima para se comunicarem com parentes em Jacareacanga.
A aldeia está completamente sitiada pelos agentes que para evitar a fuga dos indígenas colocaram minas em vários pontos da aldeia impedindo de saírem para suas roças ou fugirem do local conflitado.
Mesmo diante da intervenção, os indígenas não sabem a razão desse trabalho, pois ninguém ainda esclareceu para os mesmos a motivação da operação. Ao se falar sobre garimpagem, a aldeia não abriga garimpos bem como nenhuma atividade de garimpagem.
Devido à confusão, há crianças desaparecidas na mata, ocorrendo também explosões de equipamentos como maquinários da comunidade entre esses motores de popa que serve unicamente para transporte dos indígenas, voadeiras, rádios, e para espanto geral a pista de pouso foi dinamitada impedindo o uso para retiradas de emergências de indígenas enfermos.
A intervenção remonta aos tempos da ditadura onde pessoas foram constrangidas moral e fisicamente, com idosos sendo empurrados, mulheres indígenas chamadas de vagabundas e prostitutas. A coordenadora da Secretara Especial de Saúde Indígena (Sesai) e DSEI-Tapajós, Cleidiane Carvalho, preocupada com o estado de saúde dos indígenas atingidos que encontram-se em Alta Floresta, está providenciando uma aeronave para transportar os indígenas feridos para Belém ou Brasília.
Os indígenas que moram em Jacareacanga, foram até a Câmara de Vereadores pedir a composição de uma comissão para ir até o local de o conflito avaliar a situação já que uma equipe de líderes indígenas de Jacareacanga que iria até o local de avião foi proibida de pousar, a proibição está estendida a qualquer avião de qualquer instituição. Por isso o apelo dos indígenas em solicitarem aos vereadores que fossem até a aldeia como autoridades constituídas do município.
Nota da Funai sobre a Operação Eldorado da PF, na Terra Indígena Kayabi
A respeito dos acontecimentos envolvendo a Operação Eldorado, da Polícia Federal, a Funai esclarece que designou dois servidores para acompanhar as ações deflagradas na Terra Indígena Kayabi, na divisa dos estados do Mato Grosso e Pará.
Durante a operação, houve confronto, que resultou em policiais e indígenas feridos. Segundo informações da Funai na região, registrou-se, ainda, a morte de um indígena.
Alguns indígenas já prestaram depoimento às autoridades policiais, em Sinop (MT), e retornam hoje para a aldeia.
A Funai acompanha a situação e aguarda a investigação da causa do óbito pelos órgãos competentes, ao mesmo tempo em que presta a assistência necessária aos indígenas envolvidos no episódio.
Fonte : www.funai.gov.br
Fonte: MPF – Ministério Público Federal – AMAZÔNIA.ORG.BR
Fonte: CIMI – AMAZÔNIA.ORG.BR
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