O ato show de lançamento da campanha “Salve o Rio Branco, Patrimônio de Roraima” ocorre hoje, a partir das 17h, no final da avenida Santos Dumont, às margens do rio Branco, no bairro São Pedro. O movimento Puraké, juntamente com outras 30 organizações, está à frente da mobilização em prol da principal drenagem do Estado que estaria com sua sobrevivência ameaçada pelo projeto de construção da hidrelétrica nas corredeiras do Bem-Querer, no Município de Caracaraí.
“O rio Branco é o mais importante afluente da maior bacia de água preta do mundo. Atualmente, um projeto de construção de uma hidrelétrica em seu curso médio, nas corredeiras do Bem-Querer, ameaça a sobrevivência do rio e as atividades de pesca, turismo, agricultura e pecuária. Segundo especialistas, a pesca comercial deve declinar em cinco anos”, diz o panfleto confeccionado pelo movimento.
Dentre os impactos socioambientais que a barragem trará ao Estado está a inundação de propriedades rurais localizadas nas margens do rio Branco desde a barragem localizada a 10 km a cima da sede de Caracaraí até a confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, que dão origem ao Branco, ao Norte. Os municípios de Iracema, Mucajaí, Boa Vista, Cantá e Bonfim também deverão ser atingidos, conforme o manifesto.
Consta no panfleto que o tamanho do reservatório, segundo a Empresa de Pesquisa Energética, será de pelo menos 560 km², alagando diversos trechos da BR-174 e da Perimetral Norte. O alagamento deverá atingir, ainda, sítios arqueológicos, as praias e os afluentes do rio Branco acima da barragem, como os rios Mucajaí e Cauamé.
O biólogo Bruno Souza, mestre em recursos naturais e integrante do Puraké, informou que o movimento surgiu há seis meses com foco na defesa do rio Branco. “É um movimento socioambiental. A ideia da gente é difundir informações que não chegam à sociedade”, explicou.
Ele informou que o ato show terá 17 atrações musicais. “A gente vai fazer com que esse ato show mescle música, arte, capoeira e informação. Entre algumas músicas, a gente vai também ter uma intervenção de especialistas, de pessoas da sociedade e ainda a apresentação de vídeos produzidos com depoimentos de pessoas que moram na beira do rio Branco e sabem quais vão ser os impactos sérios sobre a pesca, por exemplo”, disse.
Durante o evento, será lançado um abaixo-assinado em defesa do rio Branco quando será exigida a imediata paralisação dos procedimentos administrativos na esfera federal e estadual relativos a construção da hidrelétrica do Bem-Querer. A intenção é colher 15 mil assinaturas.
Além disso, será cobrado que sejam levantadas as alternativas energéticas para o Estado e reavaliadas com profundidade e transparência antes que se tome a decisão de construir o reservatório, que segundo o biólogo deve ser a última opção.
“A gente precisa lembrar que Roraima é campeão na Amazônia como estado com possibilidade de gerar energia através do vento, eólica. Estamos no Atlas Eólico Brasileiro. Então a gente precisa levar essas coisas em consideração antes de tomar essa atitude”, ressaltou.
Ele destacou que o movimento é apartidário, ou seja, não é contra nenhum político diretamente. “É um movimento que tem a intenção de mostrar para a sociedade os impactos e ela precisa então decidir se quer isso ou não. Estamos questionando também a mudança da Constituição tirando a proteção das corredeiras do Bem-Querer e do rio Branco sem a participação da sociedade”, disse Bruno Souza.
Para o integrante do movimento Puraké é necessário uma discussão ampla com a sociedade sobre o assunto. “Se a sociedade percebe que os impactos são tão grandes e irreversíveis, pode exigir então que se façam novos estudos. Então é isso que a gente precisa estar levantando durante essa campanha”, destacou.
FONTE : Folha de Boa Vista
NOTA DA ECOAMAZÔNIA : A Fundação Ecoamazônia apoia a luta em defesa do Rio Branco e lembra que existem no Estado de Roraima outras opções para a geração de energia com menor impacto e degradação ambiental.