Mais de 400 pessoas são esperadas para a VII Assembleia Geral da Hutukara Associação Yanomami (HAY), que será realizada de 15 a 20 de outubro, na aldeia Wathoriki, região do Rio Demini, na Terra Indígena Yanomami (TIY). O objetivo central é realizar uma reflexão sobre o processo de luta pela homologação da TIY, considerando as ações que possibilitaram a regularização da terra. Estarão presentes conselheiros e convidados dos povos Yanomami e Ye´kuana, representantes governamentais e de organizações da sociedade civil.
A quarta-feira, 17, está reservada, em período integral, para discussão com a Funai. Na oportunidade será apresentada pelos representantes da fundação a proposta de abrangência e funcionamento das oito Coordenações Técnicas Locais (CTLs) vinculadas à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye´kuana (FPEYY).
Com o tema Proteção Territorial, a programação do dia 17 abrange, pela manhã, duas mesas, uma para tratar da situação do garimpo e a outra da invasão de fazendeiros na região Ajarani. À tarde a discussão será em torno da sobreposição entre terras indígenas e unidades de conservação e, em um segundo momento, da mineração em TIs. No turno da noite, a pauta abordará a questão dos benefícios sociais. Além da Funai, participam dos debates representantes das comunidades indígenas, Hutukara, Instituto Socioambiental (ISA), entre outros.
Pela diversidade de representantes indígenas – jovens, mulheres, lideranças tradicionais, professores, alunos, agentes de saúde, agentes agroflorestais e controladores de radiofonia – o momento é privilegiado para fomentar a discussão articulada entre os diversos representantes governamentais e os indígenas sobre a gestão territorial da TI Yanomami.
A Assembleia também será espaço de reflexão e pactuação das perspectivas futuras para a TIY e abordará outros temas, internos à Hutukara, tais como apresentação de projetos, prestação de contas e eleição da nova diretoria. Durante a abertura, no dia 15, será realizada uma apresentação sobre 20 anos da TIY por Davi Kopenawa, presidente da associação.
Histórico
Foi em 25 de maio de 1992, que se encerrou um importante capítulo da história Yanomami na sua luta pela terra. A TIY foi homologada, durante o mandato do então presidente Fernando Collor, após décadas de contato que levaram à morte grande parte da população devido a epidemias, abertura da BR-210 e invasões garimpeiras.
Entre 1975 e 1976, os primeiros garimpeiros, cerca de 500, começaram a invadir a Serra dos Surucucus e, em 1980, mais dois mil deles entraram no Furo Santa Rosa do Rio Uraricoera. As rotas dos garimpeiros passaram a dar o rumo das epidemias. Segundo Alcida Ramos, em “O papel político das epidemias: o caso Yanomami”, estima-se que de meados de 1987 a janeiro de 1990, o auge da corrida do ouro, cerca de mil Yanomami, ou seja, 14% de sua população em Roraima tenham morrido principalmente por causa de doenças como a malária.
Em 1988, o governo afirmou a existência de cerca de 40 mil garimpeiros na TIY, ou seja, cinco vezes a população indígena de todo o estado de Roraima. A estimativa é de que 150 aviões pousavam diariamente no aeroporto de Boa Vista, que chegou a receber o título de maior tráfego aéreo do país. Para os Yanomami, as consequências foram trágicas. O intenso movimento de indivíduos, aviões, helicópteros e máquinas espantaram a caça e os vários rios foram poluídos por mercúrio, promovendo a extinção dos peixes.
A situação vivida pelos Yanomami começou a atrair a atenção internacional e várias manifestações foram deflagradas ao redor do mundo. Em 1988, a Survival International organizou um protesto em frente às embaixadas de todos os países, em Londres, e simultaneamente em frente às embaixadas brasileiras de 20 países diferentes. No mesmo ano, religiosos da Missão Consolata entregaram à ONU um documento com 150 mil assinaturas no qual denunciam a situação dos Yanomami.
Em 1989, um relatório sobre a situação de saúde e sanitária da TY foi encaminhado diretamente à Secretaria-Geral da ONU. No mesmo ano, em março, o caso Yanomami foi um dos mais tratados durante um seminário em Genebra sobre “Efeitos do Racismo e Discriminação Racial sobre as Relações Sociais e Econômicas entre Estados e Povos Indígenas”. O yanomami Davi Kopenawa teve um papel fundamental nessa publicidade pela importância que lhe foi conferida em meados da década de 80, quando recebeu o Prêmio Global 500 por sua luta pelo meio ambiente.
Após intensa batalha dos Yanomami e mobilização de diversos setores da sociedade para que a demarcação da TIY não ocorresse de forma desfragmentada – como determinava a Portaria Interministerial nº250/88, que previa 19 áreas indígenas descontínuas –, a terra é finalmente demarcada com 9.664.975 hectares, distribuídos pelos estados de Roraima e Amazonas. A TI Yanomami é a maior terra indígena do Brasil.
FONTE : FUNAI – www.funai.gov.br