O número de focos de incêndio em áreas de proteção ambiental subiu 62% com relação ao ano passado, aponta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Levantamento feito pelo G1, a partir de dados do Inpe, mostra que a quantidade de focos de queimadas em unidades de conservação (UCs) federais e estaduais chegou a 10.864 entre 1º de janeiro e 20 de setembro de 2012, bem mais do que o registrado no mesmo período de 2011, quando 6.708 focos foram identificados pelo monitoramento via satélite do instituto.
Até 24 de setembro, apenas as unidades de conservação federais perderam 8.500 km² de vegetação devido às queimadas — uma área sete vezes maior que o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
O número seria ainda maior se fossem somadas as perdas em unidades estaduais, mas não há informações sobre essas áreas. Atualmente, o país tem 1.278.190 km² do território englobado por UCs — cerca de 15% do território nacional.
O crescimento do número de focos de calor (pontos captados pelos satélites com temperatura acima de 47º C e área mínima de 900 m²) está ligado principalmente ao clima seco e a práticas de incêndio muitas vezes ilegais em áreas próximas ou dentro das áreas de proteção, pondera o pesquisador do Inpe Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento.
“Este número é alto com relação ao ano passado e um pouco menor que em 2010. Unidade de preservação existe com essa função, de preservar, então não deveria haver fogo”, diz Setzer, ressaltando que há exceções, como alguns locais em que se estuda e se realiza o manejo do fogo no solo.
As cinco áreas de proteção “campeãs” em focos de incêndio estão nos estados do Maranhão, Tocantins e Pará. Juntas, elas respondem por 3.778 pontos de queimadas, quase 35% do total neste ano.
As unidades mais sensíveis a incêndios ficam em áreas de cerrado, na região central do país e ao sul da Amazônia, aponta o coordenador de emergências ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Christian Berlinck. O ICMBio é responsável pela gestão das unidades de conservação federais.
Berlinck concorda que o clima seco é um dos grandes fatores para o aumento dos focos de queimadas. “Este é um ano mais seco do que os anteriores. Houve um tempo de seca maior, uma desidratação maior do que em outros anos. Isso acaba aumentando a área atingida”, pondera.
O coordenador do ICMBio ressalta, no entanto, que o causador do fogo não é o clima, mas o homem. Ele aponta tanto causas criminosas quanto acidentes e descuido das pessoas como a origem dos incêndios. “Eu fui chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina [na Bahia] e vou te dar um exemplo. Neste ano teve incêndio no parque porque um turista se perdeu, e, para chamar atenção e ser resgatado, ele colocou fogo no mato”, diz ele, citando um caso em que o incêndio não foi criminoso.
O horário crítico de incêndios em áreas de vegetação é às 11h, segundo o coordenador do ICMBio. Quando a queimada começa neste horário, os ventos estão fortes e a temperatura do dia, elevada, o que dificulta o combate ao fogo. “O fogo se alastra mais nesse horário. Quando começa às 15h ou 16h, começa a esfriar”, o que facilita o trabalho, diz Berlinck.
Pior mês
O mês em que costumam ocorrer mais focos de queimadas é setembro, afirma Fabiano Morelli, também pesquisador do Inpe. “Existe um certo ciclo, conforme a região e o estado. Julho, agosto começa a seca. Setembro é o pior mês de todos. De outubro para a frente [a seca] começa a diminuir”, pondera ele.
“A gente teve quase três meses sem chuvas em alguns lugares, como Minas e Tocantins, o que agravou bastante a situação”, diz o coordenador do ICMBio. O instituto é um dos órgãos que integram uma força-tarefa de combate ao fogo, o Ciman (Centro Integrado MultiAgências de Coordenação Operacional). Também participam as Forças Armadas, a Polícia Federal, a Defesa Civil, a Fundação Nacional do Índio (Funai), os Corpos de Bombeiros estaduais e outras instituições.
O pesquisador Setzer aponta que 2010 foi ainda pior em focos de queimadas, já que foi um ano mais seco do que até agora em 2012. Pelos dados do Inpe, foram registrados 13.511 focos de incêndio entre 1º de janeiro e 20 de setembro do ano retrasado, número 24,3% maior do que os identificados neste ano.
Berlinck cita dados do ICMBio para apontar que o tamanho da área destruída por incêndios em unidades de conservação federais também foi maior em 2012 do que em 2011, mas menor do que há dois anos.
Até 24 de setembro deste ano haviam sido perdidos cerca de 8.500 km² de vegetação, mais do que os 6.000 km² devastados no ano passado. Em 2010, quando a destruição foi maior, 10.650 mil km² de hectares foram atingidos por incêndios. A devastação é ainda maior se forem consideradas as unidades de conservação estaduais, mas não há levantamento preciso para a maioria dos estados, aponta o coordenador do ICMBio.
“É uma questão preocupante, mas não é tão preocupante quando comparada a 2010. Se você pegar dois anos, em 2010 e 2011, houve uma redução grande da área federal atingida por incêndios. Isso demonstra uma maior eficiência dos órgãos federais”, diz Berlinck.
Não há como prever se haverá piora nas queimadas nos próximos meses, mas há potencial para isso, aponta o coordenador. Por um lado, unidades de conservação grandes, situadas no Cerrado, estão com risco menor de fogo nos últimos dias. Por outro, áreas de proteção no Amapá e Roraima vão entrar no período de estiagem, o que deve agravar os incêndios. “Elas vão entrar [em estiagem] a partir de outubro, novembro e prosseguir até fevereiro”, diz ele.
Berlinck considera que a responsabilidade pelas queimadas deve ser dividida entre todas as instâncias de governo e a sociedade civil. Com o Código Florestal, diz ele, está prevista a criação de uma Política Nacional de Manejo e Controle de Queimadas, Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, o que deve aumentar os recursos e permitir uma maior articulação governamental para o controle de incêndios.
VER REPORTAGEM COMPLETA EM: Natureza – Focos de incêndio crescem 62% em áreas de proteção ambiental, diz Inpe (globo.com)
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