Especialistas vão discutir em Brasília impactos das mudanças climáticas nas cidades e o papel das prefeituras no controle das emissões de gases de efeito estufa.A queima de combustíveis fósseis derivados do carvão mineral, do petróleo e do gás natural é a principal causa das mudanças climáticas. As cidades contribuem significativamente para o aumento das emissões do efeito estufa, em razão da queima de combustíveis fósseis pelo setor industrial, do intenso fluxo de transporte e de aterros sanitários que são grandes emissores de gás metano.
Estima-se que todas as cidades do mundo respondem por 70% das emissões de gases do efeito estufa, segundo informou o professor Emilio La Rovere, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O especialista apresentará estudos sobre o controle das emissões de gases de efeito estufa nas cidades no 5º Seminário Internacional Urbenviron 2012 Soluções Urbanas para as Mudanças Climáticas, promovido pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) e a Associação Urbenviron. Realizado em Brasília entre os dias 18 e 20 de outubro na Câmara Legislativa, o evento é um passo preparatório para o Congresso Internacional que acontece em outubro de 2013, na Flórida. Bianual, o evento em 2011 foi realizado em Cairo, capital do Egito.
O seminário possui como tema central os impactos das mudanças climáticas sobre o espaço urbano e as necessárias adaptações e mitigações de forma a produzir subsídios que contribuam para a formulação de políticas públicas e ações para seu enfrentamento. Trata-se de um evento multidisciplinar que prevê reunir ambientalistas, sociólogos, engenheiros, arquitetos nacionais e a imprensa. Os organizadores do evento chamam a atenção para os deslizamentos das terras fluminenses nos últimos anos em decorrência de mudanças climáticas.
Medidas nacionais localizadas – La Rovere é um dos responsáveis pelos estudos de inventário, realizados pioneiramente no País pelo Rio de Janeiro desde 1999, quando foi desenvolvido o primeiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), o qual identifica o perfil da cidade sobre emissões de gases gerados pelas atividades socioeconômicas que contribuem para o efeito estufa. Trata-se de uma experiência adotada há anos por grandes metrópoles, como Nova York, e semelhante à de empresas nacionais e internacionais que usam como diretriz o chamado Protocolo de Gases de Efeito Estufa (The Greenhouse Gas Protocol).
Com base no inventário de emissões, as cidades analisam os dados, observam a tendência de crescimento das emissões de CO2 e traçam metas para controlá-las em médio e longo prazos.
Metas para 2012 – No caso do Rio de Janeiro, as metas para redução de emissão de CO2 foram traçadas para 2012, 2016 e 2020, segundo La Rovere. Para este ano, o alvo é reduzir em 8% a emissão de dióxido de carbono na atmosfera em relação ao que a cidade emitiu em 2005 – percentual equivalente a cerca de 900 mil toneladas de dióxido de carbono. Segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2005 a cidade liberou na atmosfera 11,35 milhões de toneladas de gás carbônico, decorrentes, principalmente, da queima de combustíveis fósseis – gás natural, óleo diesel, coque, gasolina e GLP. O resultado sobre o cumprimento ou não das metas de 2012 será apresentado até o fim de 2013.
Inspirada no Rio de Janeiro, São Paulo vem adotando a prática do inventário produzido pela Coppe. A cidade paulistana é considerada umas das mais insustentáveis do Brasil, em razão da elevada quantidade de CO2 emitida pelo fluxo de veículos, pela forte presença industrial e pelos aterros sanitários, segundo avalia a professora da Faculdade de Arquitetura da UnB, Maria do Carmo Bezerra, ex-secretária de Meio Ambiente do Distrito Federal e organizadora do 5º Seminário Internacional Urbenviron 2012.
Mesmo que o texto do novo Código Florestal tenha ignorado o impacto das cidades na poluição atmosférica, La Rovere destaca que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo reconhecem sua contribuição negativa nas alterações climáticas e querem tornar-se sustentáveis.
Tendência mundial – A tendência é de que as práticas de sustentabilidade sejam estendidas para outras cidades, tanto nacionais quanto internacionais, em razão da iniciativa do Banco Mundial de estimular a padronização desse tipo de prática para todas as cidades do mundo. Aliás, a sugestão de padronização de sustentabilidade nas cidades foi tema de consulta pública e apresentada na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em junho deste ano no Rio de Janeiro.
Uma cidade sustentável, conforme observa Maria do Carmo, é aquela que espelha melhor a qualidade de vida e a que pressiona menos os recursos naturais, que investe na sustentabilidade de fatores ligados à infraestrutura, por exemplo. Em seu olhar, os melhores parâmetros de sustentabilidade podem ser encontrados em cidades mais compactas do que nas mais dispersas.
FONTE : Viviane Monteiro – Jornal da Ciência – http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84351
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