O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, chamou atenção para a importância de a sociedade brasileira discutir a criação de novos reservatórios no País, não ligados necessariamente à produção de energia elétrica.O representante da autarquia responsável pela gestão dos recursos hídricos brasileiros participou, nesta quarta-feira (12), de audiência pública realizada pela Subcomissão Permanente da Água, sob o comando do senador Sérgio Souza (PMDB-PR).
Segundo Andreu Guillo, o Brasil tem hoje reservas para 150 dias, número que deve cair para 94 em 2025. A quantidade é superior à da Etiópia, que tem apenas um mês de armazenamento, mas bem inferior a dos Estados Unidos, cujas reservas são suficientes para 500 dias. “Os reservatórios são um mecanismo importante de gestão, garantem provisão nos períodos de estiagem e segurança a comunidades na prevenção de inundações”, argumentou.
De acordo com o presidente da ANA, apenas os aspectos ambientais negativos da criação dos reservatórios têm sido considerados, e os pontos positivos das grandes reservas são muitas vezes esquecidos. “A questão é polêmica, daí a importância de um amplo debate, até pela necessidade de ampliação da capacidade de armazenamento brasileiro. Questões ambientais e sociais existem, mas os impactos positivos não podem ser esquecidos. Hoje interesses de mil pessoas atingidas na construção de um reservatório são superiores aos interesses de 100 mil que serão beneficiadas por ele”, afirmou.
Segundo Andreu Guillo, vigora no Brasil uma cultura de que existe água em abundância e de que não há conflito por ela. Isso não é verdade em sua avaliação. O gestor lembrou que a disputa pelo uso prioritário da água em setores como agricultura, abastecimento, geração de energia e navegação existe mesmo nas regiões economicamente mais desenvolvidas. E citou exemplos. “Na região do Paraíba do Sul, entre Rio de Janeiro e São Paulo, este conflito já está estabelecido. No interior de São Paulo também”, informou.
Transporte fluvial – O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério das Minas e Energia (MME), Altino Ventura Filho, por sua vez, afirmou que o Brasil comete um “grande equívoco” ao não explorar os rios navegáveis para o transporte, principalmente, de grãos. Segundo ele, o Brasil optou por uma solução ineficiente sob o ponto de vista energético ao privilegiar o escoamento da produção nacional por meio de caminhões queimando óleo diesel.
O secretário concordou com o presidente da ANA sobre a necessidade de discutir a construção de novas unidades de armazenagem de água, mas lembrou que há resistências por parte de alguns grupos sociais.
Segundo Altino, justamente por causa de resistências ligadas a questões ambientais o Brasil tem optado por construir novas usinas hidrelétricas sem grandes reservatórios com capacidade de regularização. São as chamadas usinas de fio d’água. “A questão é: vamos abrir mão de beneficio imenso que os reservatórios podem proporcionar ao país, sejam eles ligados diretamente à geração de energia ou não?”, indagou.
Panorama – O diretor-geral do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), Albert Cordeiro de Mello, fez um panorama da atual matriz energética brasileira e apresentou estudos sobre soluções para o desenvolvimento sustentável da hidroeletricidade.
De acordo com ele, as fontes renováveis respondem por cerca de 86% da matriz energética brasileira. As condições hidrológicas favoráveis e a geração eólica contribuem para o alto percentual. O Brasil, informou ainda, aproveita apenas 30,9% de seu potencial hidrelétrico, menos que o Canadá, com 46% de aproveitamento, que o Japão (56%), que França (64%) e que o Paraguai (65%).
Mello disse ainda que as usinas ocupam 0,5% do território da Amazônia Legal e que as reservas indígenas correspondem a 24%. No Brasil, informou ele, a participação do setor energético na emissão de gases de efeito estufa é de 16,5%. Esse percentual sobe para 79% na Europa.
Veja as apresentações do CEPEL no link: http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/pdfs/CEPEL.pdf.
FONTE : Agência Senado
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