Período de seca e incêndios provocados por agricultores consomem áreas de conservação em todo o país – até ontem, eram 110 com focos de queimadas. Segundo dados do Inpe, Mato Grosso é o estado mais afetado.
Cerca de 110 áreas de conservação ambiental no Brasil estão com focos de incêndio, sendo que a maior parte — 38 casos — em Mato Grosso. A tendência é a de que, com o início das queimadas e o tempo seco que assola grande parte do país, o volume cresça nos próximos dias. Somente nesta semana, houve aumento de 1,5 mil focos de queimadas em vários locais, atingindo não apenas a vegetação e a fauna silvestre, mas também chegando às estradas. Ontem, o número de queimadas chegava a quatro mil em 15 estados. Uma das regiões que sofre com as chamas é a reserva extrativista Chico Mendes, no Acre, local onde nasceu o seringueiro, morto em 1988.
Os últimos mapas gerados pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, no último dia 4, o número total de queimadas pelo país era de 2.368 ocorrências, subindo em 24 horas para 3.890 casos, volume superior ao de 2 de setembro, quando foram verificados 2.435 focos de incêndios, até então o maior número que havia sido registrado. Além disso, o monitoramento feito pelo órgão mostra que a situação tende a piorar com risco de fogo em toda região Centro-Oeste e parte da Amazônia.
O Cerrado hoje é a região que mais arde, com quase 37% das queimadas registradas pelos satélites, seguido da Amazônia, 30,5% das ocorrências, e o Pantanal, 26,2%. Na região onde o fogo se alastra a cada dia, entre os principais motivos estão a forte estiagem e os incêndios provocados por agricultores que lançam fogo na vegetação para o plantio — a situação também se repete no Norte. No Distrito Federal, por exemplo, hoje completam 83 dias sem chuva. E a previsão de precipitações é somente a partir do dia 20.
Em Goiás e oeste de Minas Gerais as chamas já atingem algumas reservas florestais, como a Área de Proteção Especial Santa Isabel e Espalha, em Paracatu, consumida pelo fogo durante quase toda a semana. O fogo na região mineira não afeta apenas a área de conservação, que fica próxima a rodovias, mas outros locais onde há vegetação densa. Muitas vezes o fogo atinge o mato à beira das estradas, causando transtorno aos motoristas que chegam a parar os veículos para evitar acidentes. “É uma situação difícil de ser controlada”, reconhece Roberto Ribeiro, responsável pelo Departamento de Estradas e Rodagens (DER) em Paracatu. Ele explica que muitas vezes, além do perigo, há mais razões para lamentar a crescente de incêndios na região. “A fumaça não é tudo. O problema maior é a questão ambiental”, diz Ribeiro, ressaltando que os focos também são causados por motoristas ou andarilhos que jogam objetos inflamáveis na beira da estrada, como bitucas de cigarro.
Reserva Nem mesmo regiões que, teoricamente, estariam protegidas estão fora do risco de fogo, como a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. No local onde nasceu o líder seringueiro, os satélites localizaram dois focos de queimadas. A área é cercada por fazendas, mas os próprios moradores utilizam as labaredas para limpar áreas de plantio e criação de gado. Outra área de conservação que está sob ameaça é a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, com sete focos e, segundo avaliação do Inpe, com sérios riscos de novas queimadas nos próximos dias.
Ontem, as áreas de conservação de Mato Grosso registravam 38 unidades de incêndios. Segundo levantamento feito pelos satélites do Inpe, a maior parte delas são terras indígenas, onde foram localizados 76 focos. São Paulo, com 99 incidências, tem o maior número de queimadas em áreas de proteção ambiental entre as unidades da Federação, enquanto que o Pará lidera os focos em unidades de conservação federais.
Fonte: Correio Braziliense Por: Edson Luiz http://amazonia.org.br/2012/09/reservas-ambientais-destru%c3%addas-pelo-fogo/ (DISPONÍVEL EM: SETEMBRO 2012)