A denúncia divulgada na última terça-feira (28/8) pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiam), que reúne 13 organizações indígenas da Venezuela, relata um massacre que teria sido perpetrado por garimpeiros brasileiros contra os Yanomami na fronteira do Brasil com a Venezuela. O número de mortos é incerto e os governos de ambos os países ainda precisam investigar os fatos.
Informações recebidas pelo ISA na tarde desta sexta-feira (31) de fontes de Puerto Ayacucho, na Amazônia venezuelana, dão conta de que uma comitiva se deslocou dessa cidade com o objetivo de chegar ao local onde teria ocorrido o massacre. Devem pernoitar na comunidade Yanomami de Parima B e seguir viagem na manhã deste sábado. A comitiva é cooordenada pelo Ministério Público Venezuelano com a participação da Comissão de Fiscalização do Ministério Público, da Associação Horonami, dos Yanomami da Venezuela, Defensoria do Povo, Ministério de Povos Indigenas, militares e guias Yanomami que conhecem o local, remoto, e caracterizado por floresta densa e serras, de difícil acesso.
Circulou ainda a informação de que os relatos foram feitos por Yanomami que foram à comunidade Irotatheri visitar seus parentes e encontraram a maloca queimada e os mortos. Embrenharam-se em trilhas secundárias, por temor de encontrar os agressores, e acabaram achando três sobreviventes, que na hora do ataque estavam na floresta caçando e ouviram os tiros. Os parentes conseguiram chegar à comunidade de Parima B e lá deram seus depoimentos às organizações indígenas.
Como as notícias ainda são desencontradas e ninguém chegou ao local do suposto crime, a Hutukara Associação Yanomami enviou na tarde desta sexta-feira uma carta dirigida ao Presidente Hugo Chávez, com cópia à Presidente Dilma, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e ao Procurador Geral da República, Roberto Gurgel pedindo a apuração dos fatos. Com apoio do ISA, a carta transformou-se em uma petição online, aberta à adesão de pessoas e instituições. Participe e assine. A petição está disponível também em inglês.
Haximu: o genocídio de 1993
Ainda está na lembrança de índios e brancos, o massacre de Haximu, ocorrido em 1993, no qual 16 Yanomami foram trucidados por garimpeiros. A região de fronteira entre Brasil e Venezuela, onde se situa a Terra Indígena Yanomami, é sistematicamente invadida por garimpeiros, provocando conflitos e violência com os seus habitantes. Em meados dos anos 1980, a invasão garimpeira em Roraima foi responsável por dizimar 15% da população Yanomami. Toda essa violência resultou em um conflito entre garimpeiros e índios, em 1993, que deixou 16 Yanomami mortos – esquartejados e degolados – e ficou conhecido como Massacre de Haximu.
Nesse mesmo ano, o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi/ISA), produziu um vídeo sobre o massacre, dirigido por Aurélio Michiles, e intitulado Davi contra Golias. Nele, o líder Yanomami Davi Kopenawa relata em sua língua (com legendas) como aconteceu o extermínio e exibe uma foto onde os sobreviventes carregam cabaças, cestos de palha, contendo as cinzas dos mortos. A notícia se espalhou e ativistas promoveram manifestações em todo o mundo, pedindo a punição dos culpados. Veja o vídeo sobre Haximu.
Embora os garimpeiros tenham sido julgados e condenados em 1996, em 2000, em decisão inédita, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) caracterizou o massacre como genocídio. Ou seja, crime contra uma determinada etnia.
Fonte: Isa – Instituto Socioambiental
Saiba mais: Hutukara com apoio do ISA lança petição on line pedindo apuração de denúncia de massacre contra os Yanomami
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