Criado em 2008, o Parque Nacional (Parna) Mapinguari é a unidade de conservação federal que mais sofre com o desmatamento e a pressão de madeireiros ilegais na região do sul do Amazonas. No Amazonas, o Parna Mapinguari fica no município de Lábrea, a 702 quilômetros de Manaus, na divisa com o Estado de Rondônia.

Somente entre os últimos dias 29 de julho e 9 de agosto, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) destruiu  mais de mil metros cúbicos de madeira que haviam sido retiradas da zona de amortecimento da unidade de conservação (UC), segundo a chefe-substituta do Parna Mapinguari, Claudinéia Barbosa de Lima.

Dentro da unidade, foram encontrados dois acampamentos que, provavelmente, vinham sendo ocupados por extratores ilegais de madeira. Os acampamentos foram destruídos, mas não foi encontrado ocupante no local.

A ação do ICMBio fez parte da Operação Tamanduá, realizada por órgãos federais que integram a Comissão Interministerial de Combate aos Crimes e Infrações Ambientais. Entre os órgãos estão Ibama, Ministério Público do Trabalho, Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e Polícia Federal.

Denúncias sobre invasão e retirada de madeira no Parna Mapinguari, que tem uma extensão de aproximadamente 1, 7 milhões de hectares não é nova. Moradores de assentamentos e extrativistas que vivem em áreas próximas da unidade de conservação, afirmam que é comum a presença de madeireiros no local.

Rondônia
O destino das madeiras são as serrarias localizadas em três distritos de Rondônia: Vista Alegre do Abunã, Nova Califórnia e Extrema, que se encarregam de comercializar o produto para o pólo madeireiro de outras regiões do país, a maioria deles no Sudeste.

“O Mapinguari é o nosso maior problema. A pressão é muito grande. O que amplifica a nossa preocupação é porque ali é uma área que tem vários planos de licença do órgão estadual do Amazonas, mas é onde acontece o esquentamento madeira”, conta Claudinéia. O ‘esquentamento’ é quando um detentor de licença ambiental de uma área, mas utiliza o documento para retirar madeira de outro local, geralmente de forma ilegal.

Conforme Claudinéia, sem fiscalização permanente do órgão ambiental, essa prática acaba sendo comum na região.“Os acampamentos são ocupados por pessoas que exploram a madeira. Vista Alegre de Abunã, por exemplo, vive de madeira. Esses madeireiros e fazendeiros contratam pessoas para adentrar o parque ou em outra área da União. E ficam acampados para agilizar o trabalho”, conta.

A zona de amortecimento, de onde foram retiradas e destruídas as madeiras ilegais durante a operação, funciona como uma espécie de porta de entrada para a unidade de conservação. Na prática, serve para minimizar os impactos contra o parque. “Não é proibido ‘fazer´ gado ou desenvolver outra atividade na área, desde que esta seja licenciada ou legalizada. E não foi o que vimos no local durante a operação”, disse Claudinéia.

Serrarias
Durante a operação Tamanduá, quatro serrarias localizadas em Vista Alegre do Abunã foram multadas em R$ 1, 1 milhão pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os nomes das serrarias não foram divulgados.

Vista Alegre do Abunã é onde se concentra muitos dos empreendimentos que recebem madeiras em toras e serradas extraídas de áreas do sul do Amazonas. Foi neste distrito que, há mais de um ano, o agricultor Adelino Ramos, líder camponês e morador do Projeto de Assentametno Florestal Curuquetê, em Lábrea, foi assasinado por denunciar extração ilegal de madeira.

Sílvia Alves, que coordenou a ação do Ibama durante a operação, disse que as serrarias, embora tenham apresentado licença ambiental, possuíam várias irregularidades, como não comprovação da origem da madeira e prestação de informações enganosas para o Documento de Origem Floresta (DOF), sistema de controle do Ministério do Meio Ambiente para controle do transporte de produto e subproduto florestal de origem nativa, inclusive o carvão vegetal nativo, em substituição à ATPF.

A operação também realizou sobrevôos em outras áreas de pressão de madeireiro ilegal em dois assentamentos, o Projeto de Desenvolvimento Gedeão e no PAF Curuquetê. Um relatório específico sobre a visita junto aos moradores dos dois projetos de assentamento ainda será elaborado e divulgado.

Outras ações da operação incluíram apreensão de armas, de animais silvestres, de notas fiscais com indícios de fraude e embargos de fornos.

FONTE : A Crítica