Apesar de a Justiça ter determinado a suspensão da autorização para pilotar aviões de oito profissionais apontados por suposto envolvimento na organização que financiava o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, desarticulada durante a operação Xawara, a Hutukara Associação Yanomami denunciou que esses pilotos voltaram operar na área indígena.
O vice-presidente da entidade, Maurício Yekuana, informou que na terça-feira, 24, solicitou voo de uma empresa aérea contratada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para ir até a terra indígena e foi surpreendido ao verificar que o piloto da aeronave era um dos oito presos durante a operação desencadeada pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF), no dia 13 deste mês.
A Hutukara teve ainda a informação de que no domingo, 22, uma equipe do Distrito Sanitário Yanomami, vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), foi levada até as comunidades por um outro piloto conhecido no ramo que também teve a prisão temporária e a suspensão da autorização para pilotar decretadas.
“Solicitamos que a Funai e a Sesai tomem as medidas necessárias para comunicar à Paramazônia e outras empresas aéreas, colocando inclusive nos seus editais, que pilotos com licença cassada ou sob investigação de participar do garimpo ilegal na TI Yanomami não podem prestar serviços que são pagos por estes órgãos públicos”, se posicionou a organização indígena em documento que será encaminhado aos órgãos competentes.
Maurício Yekuana falou da preocupação diante da situação. “Os pilotos das empresas que trabalham com recurso público, mesmo sem autorização, estão voltando a voar para a reserva indígena. Foi cassada a licença para que isso não voltasse a acontecer, mas não tem adiantado. É preocupante porque o garimpo voltará a se fortalecer”, disse.
Segundo apura a Hutukara, empresas que têm contratados para operar na TI Yanomami e que tiveram pilotos presos durante a operação Xawara estariam fazendo planos de voo em nome de pilotos habilitados e sem restrições na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Entretanto, outros pilotos é que estariam fazendo o voo, nesse caso, os oito investigados por envolvimento no garimpo ilegal. “Esse é o jeitinho que eles estão dando, porque a Anac não fiscaliza os voos saindo”, denunciou a Hutukara.
“Independentemente de as investigações estarem concluídas, a Hutukara solicita que a Funai e a Sesai não realizem os seus voos com os pilotos que foram presos nesta operação. Não podemos admitir que realizamos enormes esforços para que criminosos sejam investigados, processados e punidos, e que ao mesmo tempo usemos dinheiro público destinado aos povos indígenas para sustentá-los”, solicita a Hutukara no documento.
GARIMPEIROS – O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Maurício Yekuana, esteve na Terra Indígena Yanomami por solicitação de indígenas da comunidade Waikas, os quais pediram providências quanto à presença de garimpeiros na localidade que desceram de outras regiões para pedir apoio para retornar a Boa Vista.
“Eles estão sem comida e outros mantimentos para permanecer em área. Teve um grupo que passou oito dias descendo o rio Parima para chegar até Waikas e pedir ajuda dos indígenas para virem até a Capital”, disse Maurício.
Segundo ele, os garimpeiros teriam oferecido ouro e até mesmo o barco que estão utilizando e armas para que a comunidade os ajudassem a chegar a Boa Vista. “Disse a eles que não vamos apoiá-los. Não fomos nós que os levamos para lá. Não os queremos na região”, comentou.
FONTE : Folha de Boa Vista (disponível em: julho 2012)