Desde a deflagração da Operação Xawara, há cerca de 20 dias, executada pela Polícia Federal, que culminou com a apreensão de onze aviões, oito pilotos e ainda na suspensão dos serviços de algumas empresas áreas envolvidas em garimpagem ilegal, a vida dos garimpeiros ficou mais difícil na floresta. Sem alimentação, água e outros objetos básicos, os próprios garimpeiros pedem ajuda para sair da área Yanomami.
Segundo informou André Vasconcelos, coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), durante os últimos dias familiares dos que permanecem nas regiões de extração mineral procuraram o órgão para pedir ajuda na retirada dessas pessoas. Além disso, um grupo de 15 garimpeiros que se encontravam na região do Homoxi, área intensa de garimpo, caminhou durante dois dias até a base do posto de saúde da região de Surucucu para informar, por meio de radiofonia, a vontade de sair do garimpo.
Passando necessidades, desabilitados e doentes, a Funai teve conhecimento do nome de alguns garimpeiros que se encontravam na região Homoxi: Genival Jesus Crispi, Igleiton Guimarães Costa, José dos Santos, Raimundo João, José Arimatéia, Francisco Pereira da Silva, Maria Goreth, Antônio de Jesus Bastos, além de Reginaldo de Oliveira Costa, que está na região Haxiú, e se encontra muito doente. Outro grupo, de 30 pessoas, que se encontra na região do Alto Mucajaí, também manifestou a saída espontânea da área indígena.
Segundo o coordenador da FUNAI, a estimativa é que cerca de 200 pessoas das regiões de Haxiú, Parafuri, Arathaú, Waputha, Homoxi e Catrimami devam se entregar nos próximos dias.
SEM RECURSO – Mesmo com a manifestação espontânea da saída de diversos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, a Funai alega não ter recurso para realizar no momento nenhuma atividade nesse sentido nas comunidades.
Conforme André Vasconcelos, o órgão fez uma média nos gastos do recurso. Para a retirada de 300 pessoas é necessário um gasto de R$500 mil. “Porém, nós não temos esses recursos, pois exige a contratação de aeronaves, diária, alimentação, entre outros serviços. Eu digo abertamente para a sociedade que a Funai não tem como tirá-los”, explicou.
O coordenador explicou que outros parceiros também foram informados da situação, como a Polícia Federal, Exército, Ministério Público Federal, Ministério da Justiça, Secretaria Especial de Saúde Indígena entre outras instituições, “que estão cientes e preocupadas com a situação do garimpo na terra indígena.
A Funai entrou em contato com a Polícia Federal, mas o coordenador da Funai, André Vasconcelos, disse que a instituição também não tem recursos previstos para realizar mais uma operação. Diante da situação, a alternativa seria os próprios familiares providenciarem meios para a retirada dos garimpeiros com o suporte e apoio das instituições. “Já existe manifestação de familiares que podem custear a logística para a retirada, inclusive com a ajuda de um parlamentar. É isso que estamos sugerindo: se eles entraram, eles mesmos vão ter que sair”, disse.
Para os familiares que tiverem condições de trazer seus parentes, a Funai – por meio da Frente de Proteção Yanomami – vai acompanhar todo o processo. E os garimpeiros que saírem devem se apresentar à Polícia Federal. “Vamos autorizar o ingresso da aeronave, da entrada e saída, com data e hora. Todos os garimpeiros devem ser conduzidos à Polícia Federal. Tem que procurar um piloto e uma aeronave homologada para ser permitida a entrada na área Yanomami e ainda custear toda a despesa. É a única forma”, disse o coordenador.
O Ministério Público Federal (MPF) informou que a instituição está adotando as medidas necessárias para assegurar que os garimpeiros não retornem às áreas indígenas e que os pilotos envolvidos na operação não voltem a atuar, em virtude da suspensão da autorização para pilotar aviões, bem como que as aeronaves não abasteçam as áreas de garimpo. Além disso, o MPF aguarda o envio do relatório da Polícia Federal para oferecimento das denúncias contra os acusados.
Já a Hutukara Associação Yanomami (HAY) enviou, no dia 27, documento para a coordenação regional da Funai, Distrito Sanitário Especial Indígena YanomamieYe’kuana/Sesai e, ainda, para a Procuradoria da República em Roraima, solicitando que não realizem voos com os pilotos apreendidos na operação. “Não podemos admitir que realizemos enormes esforços para que estes criminosos sejam investigados, processados e punidos, e que ao mesmo tempo usemos dinheiro público destinado aos povos indígenas para sustentá-los”, diz ofício.
O documento informa que no dia 24 deste mês, o piloto Jadir Rodrigues Costa, também conhecido como Mineiro, teria realizado voo pela Paramazônia para a TI Yanomami. “Nós queremos saber se a licença dele está cassada. Como isto é possível e quais as consequências para ele e a empresa para qual voou?”.
A Hutukara exige ter acesso ao nome de mais dois pilotos e dos PTs das aeronaves apreendidas. “Não podemos fazer controle social se não dispormos das informações necessárias”, frisa o documento que finaliza informando a lista de pilotos presos e investigados por estarem envolvidos no garimpo ilegal da terra Yanomami: Amarildo Oliveira, José Joaquim Ortiz, Joaquim Oliveira Goularte, José Donizete do Amaral, Merandolino José Ferreira de Macedo e Jadir Rodrigues Costa.
FONTE : Folha de Boa Vista
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