Segundo denúncia, aproximadamente 200 indígenas de diversas etnias esperam meses pela realização de exames em Rio Branco. Grupos de indígenas de diversas etnias acreanas denunciam a falta de atenção por parte do poder público em relação à saúde e, no município de Feijó – distante 350 km da capital – aproximadamente 200 indígenas das tribos Ashaninka, Kulina/Madja e Huni Kui passam por situações constrangedoras.
O problema é visto, principalmente, ao longo da região do Alto Envira, onde o atendimento médico não tem chegado às comunidades. Na localidade, crianças, mulheres e idosos mostram os mesmos sintomas: febre alta, constantes vômitos, diarréia e desnutrição.
O grupo aguarda consultas e alguns casos graves necessitam, inclusive, de procedimentos cirúrgicos. Enquanto a ajuda médica não vem, eles estão expostos ao clima inconstante e a outras séries de riscos, incluindo a insalubridade do lugar.
De acordo com o cacique da etnia Huni Kui, Ninawá Huni Kui, os índios continuam no local por conta da dificuldade em voltar para suas respectivas aldeias, de modo que caso decidam fazê-lo, a chance de perder as “possíveis consultas, exames e cirurgias” são maiores. “Eles levam até 12 dias para chegar à cidade, isso com embarcação a motor. Sem motor, eles demoram até um mês”, destaca.
Crianças e idosos são os mais vulneráveis
De acordo com uma enfermeira que optou por não ter o nome revelado, a situação é de extremo abandando pelas autoridades, de modo que os índios enfrentam graves doenças. “Ali há crianças com quadro de desnutrição, verminose, infecções respiratórias e outras doenças”, destaca. A língua seria uma dificuldade a parte. “Eles não falam a nossa língua, o que dificulta ainda mais a situação deles”.
A profissional seria procurada pelos indígenas como uma alternativa de atendimento, sendo surpreendida frequentemente pelo grupo em sua própria casa. “Eles vão em minha casa pedindo ajuda, sempre muito doentes, pedem roupa e comida. Eles contam que muito não conseguem chegar e, durante a viagem, muitas crianças acabam morrendo”, ressaltou.
Polos Base estariam abandonados
Segundo Ninawá, os Polos Bases – locais onde deveriam ser ofertados atendimentos médicos aos indígenas – encontram-se atualmente abandonados e não dispõe sequer de estrutura para transporte de doentes. “Não existem nem telefones nos polos para acionar as equipes médicas. Tudo é muito difícil, pois falta inclusive combustível para que as embarcações funcionem. Esse isolamento motiva a vinda de muitos índios para a área urbana de Feijó”, diz.
O cacique explica, ainda, que os indígenas estão no local há mais de um ano, sem qualquer ajuda do poder público e apenas na segunda-feira, 2, duas crianças foram transferidas para o Hospital da Criança e Pronto Socorro de Rio Branco por estarem em estado grave. Elas seguem internadas nos hospitais.
Secretário de Saúde Indígena conhece problemas
De acordo com o líder, o secretário Nacional de Saúde Indígena, Antonio Alves, já teria sido notificado da atual situação dos índios. “Ainda em fevereiro, entregamos nas mãos do secretário um documento relatando as dificuldades enfrentadas quanto ao acesso à saúde indígena. Após a entrega, ele assumiu um compromisso de construir uma Casa de Apoio em Feijó para abrigar os índios que buscam atendimento médico. Além disso, também construiria um Posto Médico na aldeia Hananeri, no Alto Envira, para diminuir a vinda dos índios para a área urbana. Até agora nada foi feito”, relata.
Aproximadamente 15 mil crianças indígenas teriam morrido em Aldeias
Os números apontam dados impressionantes na saúde indígena: aproximadamente 15 mil crianças já morreram vitimadas por doenças desconhecidas em aldeias no interior do Acre. Por conta disso, o MPF pediu à Justiça organização dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, de acordo com a previsão original de contratação de profissionais de saúde.
O prazo seria de até um ano e o salário compatível com os de outros profissionais da área.
Foi determinado, ainda, a construção de postos de saúde em todas as aldeias por meios dos Planos Distritais de Saúde, além da execução de obras de saneamento básico até o ano de 2014. Os alimentos e medicamentos, incluindo kits de higiene pessoal, devem ser adquiridos e distribuídos no mês que vem.
Secretária de saúde afirma que Estado tem feito o possível
Em entrevista ao site Portal Amazônia, A secretária Estadual de Saúde, Suely Melo, informou que o Estado tem oferecido atendimento aos indígenas, principalmente por conhecer a precariedade das aldeias. “A assistência tem de ser ofertada pelo Governo Federal, mas temos feito o possível no que diz respeito à assistência médica aos indígenas por entendermos que o Ministério da Saúde ainda está se organizando”, destaca.
Ela explica, ainda, que para diminuir a demanda, o governo do Acre tem realizado mutirões nas aldeias de difícil acesso. Além disso, Suely informou que o médico responsável pelo Núcleo de Atendimento na Regional do Envira será acionado para dar informações a respeito da falta de atendimento aos indígenas.
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