Desde terça-feira passada as lideranças regionais do Conselho Indígena de Roraima (CIR) estão reunidos para discutir a caminhada da entidade e traçar planos de trabalho para os próximos anos. O fortalecimento da Gestão das Terras Indígenas, com desenvolvimento sustentável, proteção ambiental e exercício da educação e saúde é um dos temas em discussão pelas lideranças regionais.

O encontro iniciou na terça-feira, em Boa Vista, e encerra nesta sexta-feira. O evento também marca a retomada da antiga sede da entidade na avenida Sebastião Diniz, no bairro São Vicente, que estava fechada para reforma do prédio. A sede foi inaugurada com novo auditório para realização de encontros e outras atividades.

Estão presentes à reunião ampliada os coordenadores das regiões Serras, Raposa, Baixo Cotingo e Surumu (localizadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol), além do Taiano, Amajari, Serra da Lua, Wai-Wai e Murupu. Esse encontro é o momento de avaliação da caminhada do CIR e de traçar planos futuro.

O coordenador-geral do CIR, Mário Nicácio Wapichana, disse que a retomada da sede da entidade foi um passo importante, pois se trata de sede própria conquistada desde 1987 e que agora foi reformada para garantir mais comodidade aos coordenadores, com espaço mais amplo, e perto da área central de Boa Vista, facilitando a chegada dos indígenas.

Nicácio disse que foram três anos de cobrança das lideranças indígenas e a obra agora foi concretizada graças ao apoio financeiro da Embaixada da Noruega, um dos apoiadores da luta do CIR. Com a acomodação em uma sede organizada e adequada, haverá mais tempo para lutar pelos direitos indígenas. E uma das bandeiras de luta, definida pelas lideranças este ano, em reunião no Lago Caracaranã, foi “Terra e Desenvolvimento Sustentável”.

Na reunião ampliada desta semana, além dos temas saúde, educação, situação administrativa do CIR e direitos dos povos indígenas, os coordenadores ficaram conhecendo os resultados e planos de ação voltados à produção e geração de renda, vigilância e proteção das terras indígenas, bem como valorização cultural, meio ambiente e empreendimentos.

O coordenador afirmou que este será o passo definitivo para as comunidades indígenas reconstruírem suas vidas após a conquista de suas terras, com projetos de autossustentação com respeito ao meio ambiente que garantam a segurança alimentar e a geração de renda. Essa meta faz parte do Planejamento Estratégico do CIR para 2013-2015.

O plano trata da fiscalização, vigilância e garantia territorial, com criação de postos de fiscalização na Raposa Serra do Sol e outras áreas indígenas. Será elaborado um trabalho de vigilância e fiscalização, inclusive com levantamento das invasões existentes nas 32 terras indígenas. Quem ficará responsável por este trabalho é o Departamento Ambiental e Departamento Jurídico.

Serão elaborados projetos comunitários de produção e comercialização, com da produção e venda nas etnorregiões e comunidades. Serão formados 29 gestores de projetos das 12 etnorregiões, bem como elaboração de propostas de projetos de autossustentação.

O plano ainda prevê o fortalecimento do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, na região de Surumu, com a reestruturação e ampliação de 15 projetos produtivos existentes naquele Centro, bem como serão feitas parcerias com universidades e entidades.

Mário Nicácio afirmou que ainda há estratégias elaboradas na questão ambiental, por meio de trabalho de proteção e conservação de recursos naturais, com reconhecimento de 250 agentes ambientais indígenas e construção de quatro Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) nas terras indígenas.

Ele citou ainda a preocupação com o tema sobre mudanças climáticas, com promoção de estudos e levantamento em 12 terras indígenas sobre os impactos das mudanças climáticas e os seus efeitos sobre a vida dos povos indígenas. Os índios ainda querem a criação de mecanismos que garantam indenização às comunidades pelos danos ambientais causados ao patrimônio material e imaterial em decorrência de projetos e empreendimentos executados no entorno e na bacia hidrográfica dos territórios tradicionais.

Todas essas estratégias serão discutidas a partir de agora junto aos coordenadores regionais bem como nas assembleias e encontros com as comunidades indígenas. Cada coordenador vai levar esse Plano para que seja debatido e assim construir um planejamento que represente o anseio de todas as comunidades, conforme Mário Nicácio Wapichana.

FONTE :  Folha de Boa Vista