O governo admite a possibilidade de rever parte do potencial hidrelétrico que pretende explorar na região amazônica. As usinas de São Luiz do Tapajós e Jatobá estão fora dessa avaliação, mas outros projetos deverão ser retirados da lista de prioridades. “Acredito que teremos de abrir mão de parte de nosso potencial hidrelétrico. Certamente não poderemos usar todo o potencial do Tapajós, por exemplo”, diz Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). “Estamos apenas na fase de estudos ambientais desses empreendimentos, tudo vai depender do que for decidido pelo Ibama. O relatório de impacto ambiental poderá reprovar as usinas.”Um levantamento do Observatório de Investimentos na Amazônia, ligado ao Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), aponta que há 30 usinas hidrelétricas planejadas ou em fase de construção na região. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de R$ 94,1 bilhões nesses empreendimentos, dos quais R$ 67,3 bilhões estão atrelados a hidrelétricas em andamento (Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, Santo Antônio do Jari, Colíder, Teles Pires, Estreito e Ferreira Gomes). Os demais R$ 26,8 bilhões estão direcionados para novas usinas (São Luiz do Tapajós, Jatobá, São Manoel e Sinop).

Para Alessandra Cardoso, coordenadora do Observatório, a falha mais grave desses projetos é a “falta de sinergia” sobre seus impactos sociais e ao ambiente. “Se considerarmos o conjunto das 30 hidrelétricas previstas até agora para a Amazônia, qual seria a estimativa do aumento populacional esperado? Esses cálculos simplesmente não existem”, diz.

Outro problema levantado pelo estudo do Inesc diz respeito ao cumprimento das condicionantes socioambientais que os empreendedores assumem ao vencerem os leilões dessas usinas. “Há um paradoxo entre a eficiência do governo para reduzir unidades de conservação ambiental e para fazer cumprir as condicionantes ambientais. Vemos uma desconexão entre os investimentos nas obras e o planejamento dos gastos em políticas públicas”, diz Alessandra.

Para minimizar os impactos ambientais no Tapajós, o governo defende a tese que vai se basear no modelo inédito de “usina plataforma”, inspirado nas plataformas de petróleo, isoladas no oceano. Tudo seria transportado por meio do rio ou por via aérea. Nenhuma estrada seria aberta na mata para preservar o ambiente. Ocorre que há muitas pedras no rio Tapajós, o que dificulta muito a navegação. Além disso, a rodovia Transamazônica corre por toda margem esquerda do rio. No ponto onde está prevista a construção da barragem de São Luiz, a rodovia passa a menos de 200 metros de distância. Isso significa que, na prática, se o projeto for aprovado, fatalmente a Transamazônica será a principal via de acesso.

Os dados da EPE apontam que o Brasil é dono do terceiro maior potencial hidrelétrico do planeta. O país detém 10% de todo o recurso hídrico mundial, só atrás da China (13%) e da Rússia (12%). De todo esse potencial, diz Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, apenas um terço é utilizado até hoje para geração de energia. “O nosso problema é que os 66% desse potencial que ainda não utilizamos estão justamente na região Norte.”

Uma vez em operação, a usina de São Luiz poderia fornecer energia para atender cerca de 15 milhões de casas. Jatobá iluminaria mais 6 milhões de residências. Juntas, as duas hidrelétricas poderiam atender nada menos que 38% dos 57,3 milhões de domicílios do Brasil. A maior parte da geração, no entanto, estaria voltada para o setor industrial.

Fonte: Valor Econômico – http://amazonia.org.br/2012/07/governo-admite-rever-algumas-das-usinas/