Quem pensa numa região rica em bacias hidrográficas como o Acre, com rios que desaguam no rio Amazonas, não imagina que nascentes de importantes igarapés podem estar localizadas nos fundos de um restaurante por quilo de uma pequena cidade que cresce de forma desordenada. É no meio do lixo que surge uma nascente do Judia, um dos principais afluentes do rio Acre, que atende 12 bairros da capital.

 

A bacia do Judia já foi usada para abastecer a cidade. As pessoas lavavam roupas e se banhavam nessas águas que hoje parecem um esgoto a céu aberto. Mas ao longo do rio, a situação se modifica. Seguindo o pequeno curso do Judia, suas águas começam a ficar claras e tomam força. Mais à frente, numa área de seis hectares cuidada pelo estado, a água mostra melhorias. Foram mais de 2 mil mudas plantadas na recuperação da mata ciliar do Judia durante três anos.

 

Com o objetivo de preservar e fazer uso de forma racional de seus recursos para garantir as necessidades da sociedade, o Acre lança o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH), um projeto que tem parceria do governo do Estado com a WWF-Brasil, por meio do programa HSBC Climate Partnership. “Se estes cuidados não forem tomados agora, certamente haverá problemas no futuro”, diz Edgar de Deus, secretário de Meio Ambiente. “A ideia é que o Acre não repita erros cometidos pelas grandes cidades brasileiras”.

 

O estado quer se adiantar na questão da água. “O plano faz uma gestão preventiva do recurso pois prioriza a preservação e não apenas na solução dos problemas. Quebra a ótica utilitarista do uso das águas”, diz Glauco Kimura Freitas, coordenador do programa Água para a Vida do WWF-Brasil.

Para isso, foram levantadas informações sobre as características da região, como a vazão dos rios, quantidade e qualidade da água, distribuição de chuvas, atividades que mais usam o recurso, demandas da população, entre outros. O plano levou dois anos para ficar pronto e envolveu cerca de 2 mil pessoas para garantir que quando houver mudança de governo, o programa esteja incorporado na sociedade.

 

O Brasil tem 12% da reserva de água doce do mundo. Mais de 70% dos recursos hídricos concentram-se na Amazônia. Esta abundância faz com que o país, muitas vezes, trate a questão como se o recurso nunca fosse acabar.

 

O plano lida com um cenário complexo e realidades muito distintas. O Acre tem 87% de suas florestas conservadas. Nelas habitam 18 etnias que falam línguas diferentes, pequenos agricultores e povos ribeirinhos que se beneficiam diretamente da pesca e da agricultura. Para facilitar o processo de gestão, o plano divide a região em seis unidades distintas de bacias hidrográficas.

 

Na bacia do rio Acre concentra-se o maior volume de água. É nesta área que está também a maior parte da população do Estado e como consequência os maiores fatores de ameaças aos recursos, como as ocupações irregulares, problemas com o lixo, efluentes domésticos, abertura de rodovias e pesca predatória.

 

Por essas razões, a Bacia do Acre é considerada uma região de alta prioridade no PERH. Cerca de 60 mil hectares de sua bacia está desmatada. Algumas ações do plano já estão em andamento, como a recuperação de matas ciliares na região. A região tem criação de gado e abriga 28 projetos de assentamentos. “Esse fato contribui para que a área seja classificada como de necessidade prioritária”, explica Marli Ferreira, coordenadora de Gestão de Recursos Hídricos da Sema-Acre.

 

Alguns assentamentos foram escolhidos para um trabalho modelo de recuperação de degradação do  solo e conservação das águas. Outra ação prioritária é o monitoramento de eventos hidrológicos críticos. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) e Agência Nacional de Água (Ana) o plano prevê a expansão e modernização da rede hidrometeorológica do estado.

FONTE : Valor Econômico – http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=83382