A antiga capital da República já vive o ambiente feérico da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, inaugurada oficialmente nesta quarta-feira 13 de junho. Até a sexta 22, quando se encerra a cúpula dos chefes de Estado e governo, cerca de 40 mil pessoas, representando quase todos os países do planeta, participarão das centenas de eventos individuais programados, entre palestras, mesas redondas, exposições, filmes, shows artísticos e outras manifestações de interesse pelas questões ambientais e de desenvolvimento. Sem dúvida, um belo espetáculo de cidadania e congraçamento, para o qual o Rio de Janeiro sempre proporciona um palco privilegiado – pena que não se possa dizer o mesmo sobre a consistência da grande maioria das discussões que serão aí travadas, para o enfrentamento efetivo dos verdadeiros desafios colocados pelo processo de desenvolvimento mundial.

O governo brasileiro se debate entre posições dúbias. De um lado, autoridades como a presidente Dilma Rousseff e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, criticam, corretamente, os “delírios”, a “miopia ambiental” e o “achismo ambiental”, característicos das posições dos ambientalistas. Durante as discussões preparatórias da conferência, como mencionamos neste boletim, a própria orientação oficial brasileira enfatizou bem mais os aspectos referentes ao desenvolvimento, que à temática ambiental específica. Do outro, porém, é mantida a obsessão com a “economia de baixo carbono”, em um momento em que os cenários climáticos alarmistas nos quais o conceito se baseia são questionados de forma crescente, na Europa e na América do Norte. Da mesma forma, persistem ilusões como a da “transferência” de tecnologia e recursos das economias industrializadas, para os programas de consolidação da “economia verde”, em meio à maior crise econômica e financeira da História recente e às drásticas transformações em curso na ordem de poder político e econômico mundial.

Diante desses fatos, não admiram as muitas concessões que o País tem feito, com o intuito de receber fundos estrangeiros direcionados a diversas iniciativas vinculadas à proteção ambiental, as quais têm resultado em uma enorme e perniciosa ingerência do aparato ambientalista na formulação das políticas públicas, em especial, na área de infraestrutura física, onde numerosos projetos têm sido prejudicados e até inviabilizados por conta de critérios ambientais.

O próprio Rio de Janeiro proporciona um bom exemplo de tais distorções, com a ênfase equivocada que tem sido dada às questões climáticas e os destaques conferidos a iniciativas perfunctórias, como os chamados “prédios verdes”, em detrimento de um enfrentamento dos problemas realmente causadores dos maiores impactos ambientais observados na região metropolitana do entorno da cidade. Por isso, a Prefeitura Municipal tem uma Subsecretaria de Mudanças Climáticas (como se questões climáticas reais fossem temas da alçada de uma municipalidade) e está apoiando um dos eventos paralelos mais badalados da conferência, o Rio Climate Challenge ou Rio Clima, iniciativa da Subcomissão da Rio+20 da Câmara dos Deputados, encabeçada pelo deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ). O objetivo do evento é o de sempre, discutir formas de redução das emissões da gases de efeito estufa, para combater o aquecimento global.

Em entrevista ao jornal O Globo (12/06/2012), Sirkis afirma que “o objetivo é manter a centralidade do Rio na questão climática” (seja lá o que isto signifique). Para ele, a Rio+20 pode proporcionar avanços na “economia verde”, desde que se adotem o que chama “bons princípios”, entre eles: a substituição de impostos e subsídios ambientalmente agressivos por uma taxação baseada na intensidade de carbono; grandes investimentos públicos em inovação tecnológica para as energias limpas e renováveis (embora não cite, ele se refere às fontes eólicas, solares e outras favoritas dos “verdes”); e a atribuição de valor econômico aos serviços ambientais.

O entusiasmado deputado faz apenas uma menção de passagem aos sérios problemas da cidade quanto à coleta e disposição de lixo e ao saneamento. Uma lástima, pois estes se alinham entre os maiores problemas ambientais do Grande Rio (e da maioria das grandes cidades brasileiras), juntamente com as consequências de um sistema de transportes baseado nos ônibus e automóveis e da ocupação indiscriminada de áreas de risco, como encostas de morros e várzeas de rios e riachos. Sobre estes, é de se lamentar a escassa importância que lhes é atribuída pelos defensores do meio ambiente.

Entretanto, alguns indícios sugerem que a percepção pública da temática ambiental pode estar começando a se tornar mais racional e menos emotiva. Um deles foi um julgamento simulado da responsabilidade humana para o aquecimento global, feito pelos alunos de uma escola secundária e mostrado pelo telejornal RJ-TV da Rede Globo de Televisão, em 12 de junho. Para surpresa geral, principalmente, do jornalista André Trigueiro, um ambientalista notório, o júri absolveu o Homo sapiens sapiens pelo fenômeno (vale a pena assistir ao vídeo de dois minutos). Quem dá aulas ou palestras para jovens conhece a forte penetração do discurso ambientalista entre eles, que começa na literatura escolar, na qual as questões climáticas são quase invariavelmente tratadas sob a ótica alarmista. Assim, quando secundaristas conseguem demonstrar uma atitude racional diante do tema, isto é motivo de registro e satisfação.

FONTE : MSIa INFORMA – uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa).