Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Movimento de Luta pela Terra (MLT) e Central dos Assentados de Roraima (CAR) realizaram, na tarde de ontem, 12, uma mobilização em frente ao Instituto de Terras e Colonização Roraima (Iteraima) para repudiar o cancelamento de uma reunião marcada com os movimentos e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Os manifestantes acusam o Estado de estar doando aos grandes fazendeiros e madeireiros lotes que antes eram de trabalhadores rurais, cuja expectativa era transformar em Projetos de Assentamentos (PAs). Na reunião seria tratada entre os órgãos públicos e os movimentos rurais a retirada desses ocupantes das terras que antes eram da União e que foram repassadas para o Estado.

Carla Priscila Rocha, representante do MST, disse que os movimentos querem que essas terras sejam legalizadas em nome de pequenos agricultores. Ele citou como exemplo o PA Angelim II, localizado no Município de Caracaraí, onde desde 2008 vivem mais de 60 famílias, mas que agora o Iteraima está titulando os lotes para fazendeiros.

“Eles [autoridades fundiárias] alegam que os lotes estão abandonados. De fato alguns estão, mas isso acontece porque não há políticas que ofereçam condições para os trabalhadores permanecerem em seus lotes, como as estradas que estão em péssimas condições”, disse.

Ela explicou que o momento é de apreensão no campo. “Há uma situação que antes as terras eram do Incra, mas passou para o Estado e dentro dessas terras viviam assentados. O repasse prejudicou a vida de várias famílias de agricultores que vivem apreensivos, pois muitos perderam e outros estão sujeitos e perder seus lotes”, frisou.

Segundo a manifestante, a situação também acontece nos municípios de Mucajaí, Bonfim e na região do Passarão, na zona rural de Boa Vista. “Alguns pequenos agricultores inclusive já foram ameaçados pelos madeireiros”, denunciou Carla.

A agricultura disse que na reunião que foi desmarcada seria firmada uma cooperação técnica entre o Iteraima e o Incra na tentativa documentar esses pequenos agricultores e ainda oferecer políticas públicas.

A justificativa para o não acontecimento da reunião, segundo Carla Priscila, seria porque o diretor-presidente do Iteraima, Márcio Junqueira, não estaria em Boa Vista. Mas, com a pressão, representantes do instituto marcaram uma próxima reunião para amanhã, 14, às 15h, no próprio órgão.  

A Folha tentou falar com a assessoria de comunicação do Iteraima para se justificar sobre a veracidade dos fatos nos repasses das terras, mas o telefone do assessor não completava a ligação.

O Incra, por meio da assessoria de comunicação, explicou que também solicitou uma reunião com o Iteraima para tratar sobre os repasses da terra, pois o órgão estadual estaria titulando áreas para grandes fazendeiros.

Segundo a assessoria, a Gleba Caracaraí, onde se encontram as 60 famílias no Angelim II, foi repassada para o Estado, mas no local não existe projetos de assentamentos do Incra, no entanto, o Iteraima se comprometeu em priorizar a titulação para pessoas que já estavam no local, mas agora descumpre o que está no termo de doação.

Para tentar encontrar alternativas para esses agricultores, o Incra tenta dialogar com o Iteraima, pois o Estado pode criar projetos de assentamentos e o Incra pode reconhecer a área e se responsabilizar em viabilizar políticas rurais. 

FONTE : Folha de Boa Vista