Cientistas, empresários, economistas e líderes indígenas aderem ao movimento das ONGs e repudiam documento final da conferência das Nações Unidas que se encerra hoje (22) no Riocentro. Confira a íntegra do manifesto ‘A Rio+20 que não Queremos’.
O protesto de ONGs e institutos de pesquisa ganhou a adesão de líderes empresariais, indígenas, além de cientistas e economistas. Com isso, diante da crescente indignação da sociedade civil a respeito do tom pouco ambicioso do documento final da Rio+20, o encerramento da conferência, marcado para hoje (22) à tarde no Riocentro, vai se transformar num palco de protestos. O grupo que discorda do texto assinou uma carta-repúdio à Rio+20, que será entregue oficialmente hoje, ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Ele também receberá líderes da Cúpula dos Povos.
Entre os descontentes estão o economista Ignacy Sachs, do Centro de Pesquisas do Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais (Paris); a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva; além dos cientistas Thomas Lovejoy e José Goldemberg. Líderes empresariais como os brasileiros Oded Grajew e Ricardo Young, ambos do Ethos; os economistas José Eli da Veiga e Peter May; líderes indígenas como Davi Kopenawa Yanomami e de ONGs, como Kumi Naidoo, do Greenpeace; e políticos como Fábio Feldman.
Até o início da noite de ontem, eram quase 50 signatários, e a carta continuava aberta para adesões. “A Rio+20 passará para a história como uma conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos”, diz a carta, de cinco parágrafos, intitulada ‘A Rio+20 que não Queremos’.
A crítica refere-se ao texto que deverá ser aprovado hoje na plenária final da conferência, de 283 parágrafos, intitulado O Futuro que Queremos. Negociado por diplomatas e fechado na terça-feira, após uma sequência de vários dias de negociação, ele será o principal legado da Rio+20 – avaliado como “histórico” pelo governo brasileiro e pela ONU, e como “fraco e muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92” pelas lideranças que assinam a carta de repúdio.
Anteontem, no primeiro dia da sessão de alta cúpula da conferência, representantes de ONGs chegaram a pedir que a expressão “com plena participação da sociedade civil” fosse removida do parágrafo introdutório do documento oficial – algo que dificilmente ocorrerá. O texto da decisão é considerado fraco por não trazer nenhum comprometimento imediato com metas ou ações concretas de desenvolvimento sustentável.
Colapso – “De fato é um momento histórico”, disse a ativista canadense Severn Suzuki, que na conferência de 1992, aos 12 anos, fez um discurso memorável aos chefes de Estado. “Esse documento será lembrado como prova do colapso da estrutura de governança global”.
Severn também assina a carta, que foi lida ontem em uma reunião bagunçada e emotiva, convocada às pressas, no pavilhão das ONGs no Riocentro. “Passei os últimos 20 anos trabalhando de boa-fé, achando que minha voz fazia alguma diferença, que nossos líderes eleitos democraticamente tinham a capacidade de mudar o mundo”, lamentou Severn, hoje com 32 anos.
Segundo Wael Hmaidan, da organização Climate Action Network, alguns diplomatas acusaram as ONGs de não serem “pragmáticas” em relação à crise econômica, que teria impedido países desenvolvidos de assumir compromissos mais ambiciosos. Para ele, porém, a crise é uma desculpa que “não cola”, já que vários países continuam a subsidiar a indústria petrolífera e outras atividades poluentes. “Se eles quisessem fazer mais, poderiam”, disse Hmaidan.
‘A Rio+20 que não queremos” – Confira a íntegra abaixo.
“O futuro que queremos não passa pelo documento que carrega este nome, resultante do processo de negociação da Rio+20. O futuro que queremos tem compromisso e ação – e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a sociedade e seus anseios – e não apenas as cômodas posições de governos.
Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial que deverá ser o legado desta conferência. O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos.
A Rio+20 passará para a história como uma conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.
Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam os negociadores – e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem subscreve esse documento.”
FONTE : O Estado de São Paulo – http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=82949
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