Após três dias de debates, representantes de todos os estados da Amazônia Legal finalizaram documento que será encaminhado à presidente Dilma Rousseff e apresentado na Rio+20.

De 30 de maio a 1º de junho, aconteceu em Manaus (AM) o Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, no Salão Rio Negro, em Manaus, Amazonas. Durante três dias, delegações de todos os estados da Amazônia Legal discutiram as prioridades da região e qual será o modelo de desenvolvimento econômico a ser defendido na Conferência das Nações Unidas Rio+20, que acontece de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. O objetivo principal era a construção da Carta da Amazônia, que contém ações de desenvolvimento sustentável do Norte para os próximos anos.

 

Em seu discurso na abertura do evento, o governador do Amazonas, Omar Aziz, falou sobre a inclusão do homem no processo de crescimento da Amazônia, “somos favoráveis a preservação do meio ambiente, mas nesse contexto há que se observar as dificuldades de viver na Amazônia, ver o que nossos ribeirinhos e homens da floresta vivem e enfrentam. Posso dizer que este Fórum é um dos maiores encontros já feitos para se discutir a Amazônia. Na Rio+20 os países vêm discutir modelos de desenvolvimento para o mundo, mas virão também discutir nossa região”, disse o governador.

No encontro, autoridades e estudiosos deram o tom de como pretendem trabalhar o ideal de sustentabilidade na Amazônia. No primeiro dia de debates, observou-se que há vontade de pesquisadores e políticos em criar um modelo de desenvolvimento pensado pelos próprios amazônidas em detrimento a modelos impostos por outros estudiosos fora do contexto amazônico, “com a Carta da Amazônia queremos dizer ao mundo o que entendemos por desenvolvimento sustentável. É fácil dizer o que é bom para nós, mas desejamos mostrar o que queremos e pensamos”, disse o representante de secretarias de meio ambiente da Amazônia.

 

Outro palestrante foi o pesquisador Ennio Candotti, vice-presidente da SBPC e diretor do Museu da Amazônia. Candotti ministrou palestra sobre os problemas da Amazônia e apontou sugestões para enriquecer os debates.

 

Falou ainda sobre o pequeno número de pesquisadores que há na Amazônia e os poucos incentivos para a área de pesquisas na região, “cerca de 70% das pesquisas na Amazônia são realizadas por estrangeiros, temos que mudar este quadro valorizando nossos cursos de mestrado e doutorado, minha sugestão é que o programa Ciência sem Fronteiras, [programa de incentivo a ciência e pesquisa do governo federal] que investe em 75 mil bolsas de estudos, transfira pelo menos 20 mil destas bolsas para o desenvolvimento da Amazônia, em nossos estudantes da região”, relata.

 

O palestrante abordou temas delicados, como o crédito de carbono, na qual chamou de colonialismo, ao ver que certos países possuem licença para desmatar e produzir, bastando somente que consigam áreas em outras regiões onde se preserve a floresta. Outro ponto foi quanto às águas na Amazônia que, ao exemplo do petróleo, poderia gerar ‘royalties’ por onde passasse, como a água que move turbinas e que irriga plantações.

 

Candotti frisou pela preservação do potencial amazônico e seus microorganismos, onde a regeneração da floresta depende de fungos que transformam folhas e madeiras em nutrientes. Outro ponto foi quanto à falta de menção no novo Código Florestal as florestas alagadas que, segundo o cientista, atinge uma área de 500 mil quilômetros quadrados na Amazônia. No discurso final fez uma defesa das populações ribeirinhas, povos indígenas e dos aqüíferos [reservatórios de águas subterrâneas] na Amazônia.

 

Outra palestrante foi a pesquisadora Berta Becker. A professora deu início a sua fala onde cita que há mudanças propostas pelo mundo entre o conceito de desenvolvimento sustentável para o de sustentabilidade global. Berta Becker fez críticas às exportações feitas na Amazônia atualmente, “temos que terminar com este conceito de exportar em bruto, temos que fortalecer nossas cadeias produtivas, isso melhorará nosso modelo de desenvolvimento e nossa contribuição ao PIB nacional que é de apenas 8%”, disse.

 

Berta Becker expôs que este modelo de exploração da Amazônia está mudando. “A exploração de nossas matérias primas está cedendo à exploração das funções da natureza, por exemplo, o uso racional de nossa estrutura para fins mais sustentáveis como o uso de energias alternativas”.

 

Também relatou sobre a transformação da Amazônia em uma fronteira de imigrantes internacionais, “países como índia e o Haiti são exemplos onde há pessoas vindas para trabalhar e viver na Amazônia”, disse.

 

Carta da Amazônia – A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, participaram do último dia do “Encontro de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”. Elas serão as responsáveis de encaminhar pleitos dos governadores à presidente Dilma Rousseff.

 

Antes do pronunciamento no evento, as titulares se reuniram com as autoridades dos nove estados da Amazônia Brasileira para tratar sobre a “Carta da Amazônia”, que integrará as discussões na Rio+20. Ideli Salvatti enfatizou a disposição dos governadores em criar um Conselho do Desenvolvimento Sustentável com participação dos governos federal e estaduais, sociedade civil e municípios para que o desenvolvimento com sustentabilidade possa acontecer na Amazônia.

 

“A Amazônia tem um grande apelo mundial e por este motivo ela tem uma relevância neste evento. Por isso, o que os governadores fizeram preparando a carta, colocando as necessidades, os avanços e os pleitos são de fundamental importância nesse momento. Realço que na carta uma das principais deliberações é no sentido de avançar naquilo que será debatido na Rio+20, que é a governança para o desenvolvimento sustentável”, disse Ideli Salvatti.

 

A ministra assegurou que o documento formulado pelas autoridades da Amazônia Legal será encaminhado à presidente Dilma Rousseff. Além disso, as titulares irão articular uma audiência entre os governadores e a presidente. “A ideia é que esse encontro ocorra antes da Rio+20 para que todos esses pleitos, análises e a parceira entre os governadores da Amazônia e a presidenta possa se consolidar”, concluiu Ideli Salvatti.

 

Já Izabella Teixeira ressaltou que a região Amazônica irá se apresentar ao mundo depois de 20 anos com a menor taxa de desmatamento da história. “Houve avanços nas políticas de desenvolvimento regional e com uma convergência de políticas importantes em relação ao mundo sustentável. O próprio sentido da erradicação da pobreza, da economia verde e inclusiva que aposta nos melhores caminhos em termos de sustentabilidade, que traga crescimento econômico e social”, declarou a ministra.

 

Na análise da titular, dois pontos importantes integram as prioridades da ‘Carta da Amazônia’: o foco nas questões urbanas e os aspectos das inovações científicas e tecnológicas. “A proposta dos governadores é uma proposta muito concreta com um comitê que vai avaliar, reunir as prioridades e as questões de buscar os meios para implementação, não vai ser uma governança separada e sim única, mudando o modelo atual das Nações Unidas”, explicou a ministra do Meio Ambiente.

 

FONTE : Jornal da Ciência (JC) com informações do Portal Bvnews e Portal G1