Para especialista, inserção produtiva das comunidades que habitam as UCs deve incentivar o manejo adequado da terra e assegurar investimentos em tecnologias de produção.

A exploração e conservação da terra por populações tradicionais, comercialização de produtos da biodiversidade e diferentes formas de ocupação do solo são diferenciais das unidades de conservação (UCs) no Brasil e no mundo. Quando governo e sociedade falam de inserção produtiva dessas comunidades em áreas de preservação ambiental, é incentivado o manejo adequado da terra e investimentos em tecnologias de produção que garantam a qualidade dos produtos da biodiversidade.

No dia de debates sobre Unidades de Conservação e Metas Globais da Biodiversidade para 2020, a coordenadora da Iniciativa Amazônia e representante do Conselho Diretor da ONG Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos, resgata os fundamentos da importância das populações tradicionais na gestão das áreas protegidas, regidas pela Convenção da Biodiversidade, pelo próprio Sistema Nacional de Unidades de Conservação, pela Política de Povos e Comunidades Tradicionais e pelo Plano Nacional de Áreas Protegidas.
Leia entrevista de Adriana Ramos durante o Ciclo de Debates Brasil Sustentável – O caminho para todos, nesta segunda-feira (11/06), no Espaço Tom Jobim do Jardim Botânico do Rio de Janeiro:

Qual o papel da sociedade nesses debates?
No contexto das Unidades de Conservação, o papel da sociedade está no incentivo para que sejam cumpridas as metas da biodiversidade, considerando as diferentes áreas protegidas, não somente nas Unidades de Conservação, mas também as áreas indígenas e as áreas quilombolas.

Como a ONG contribui para isso?
Podemos resgatar uma experiência do Instituto Socioambiental (ISA) que contribui para essa visão. Trata-se da implementação das reservas extrativistas da região da Terra do Meio, em especial da reserva do Riozinho do Anfrísio, onde nos estamos desenvolvendo, junto com as comunidades locais, cadeias produtivas do uso da biodiversidade. Essas populações usam quase 100 produtos diferentes da biodiversidade, nessa unidade, isso é, enfim, um reflexo da realidade da Amazônia.

Como isso pode contribuir para o alcance das metas?
As dificuldades e as potencialidades desse trabalho podem contribuir com uma visão do que as políticas devem fazer para as reservas extrativistas de fato funcionarem.

Existe outra ferramenta de apoio aos produtos da biodiversidade?
Outra experiência que trabalhamos na ONG e apresentamos aqui é o Sistema de Indicadores Socioambientais de Unidades de Conservação, que nós desenvolvemos. É um sistema que busca avaliar a gestão e a implementação dessas áreas a partir da visão dos diferentes conselheiros, dos conselhos gestores, portanto, considerando a participação de todas as partes envolvidas na gestão da unidade

Qual o papel das comunidades tradicionais na conservação da biodiversidade?
As comunidades tradicionais, ao fazerem uso sustentável da biodiversidade dentro dessas áreas, estão contribuindo muito com a manutenção dessas áreas, tanto do ponto de vista ambiental e social. Dessa forma, contribuem para a conservação da biodiversidade e preservação do meio ambiente.

Na sua opinião, como deve funcionar a gestão dessas áreas?
Apoiamos o modelo de gestão compartilhada, para que seja efetiva e contribua também para a conservação da biodiversidade. É fundamental que a visão dessas comunidades, que estão dentro dessas áreas, seja considerada na gestão dessas áreas. Por isso é importante a gente ter instrumentos que permitam essas comunidades participar do planejamento da gestão da unidade.

O que deve ser feito a longo prazo para a preservação da biodiversidade nas Unidades de Conservação?
É preciso a valorização do conhecimento tradicional nas áreas protegidas, políticas públicas especificas que atendam as populações dessas áreas, parceria com empresas que respeitem o ritmo das comunidades tradicionais e a garantia de formas de comercialização e venda.