A grandiosidade do território da Amazônia é sua maior riqueza e também o maior problema de quem atua na região. A missão do exército brasileiro de proteger 60% do território e 73% das fronteiras do país passa por desafios diariamente. Mas, segundo o general Mário Antunes, o trabalho de quem vive na região é feito com amor à mata e ao Brasil.
Atualmente, o general é comandante da 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel) de Caçapava, no estado de São Paulo. A sua vivência na Amazônia como Chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia, em Manaus por muitos anos, porém, é o que faz seus olhos brilharem. Segundo ele, os soldados que atuam na região têm a missão de preservar e manter o espaço de seus antepassados em um trabalho de séculos de íntima convivência com a natureza.
O Comando Militar da Amazônia (CMA), cujos símbolos são a cruz, a espada e a onça pintada, abrange seis estados e 15 milhões de habitantes – apenas 10% da população nacional. Porém, a região tornou-se o foco de atuação do exército nas últimas décadas; o número do efetivo subiu de mil, em 1950, para os 27 mil militares que hoje atuam no CMA. A atuação segue em duas frentes: a mão amiga, que é o apoio social, e o braço forte, a proteção militar do território. O trabalho não é fácil. A grande extensão do território, a carência de serviços estatais e de infraestruturam, a dificuldade de locomoção, a permeabilidade do território e o baixo desenvolvimento socioeconômico afetam o trabalho das Forças Armadas.
Se fosse possível atravessar o território em linha reta, de norte a sul, seriam 2 mil quilômetros percorridos; de leste a oeste, 3 mil. A distância se torna ainda maior por causa da falta de estradas, uma “dificuldade que temos que vencer”, disse Antunes, em palestra para o módulo “Descobrir a Amazônia, descobrir-se repórter” do Projeto Repórter do Futuro. O Projeto Repórter do Futuro é organizado pela Oboré e reúne estudantes de jornalismo e especialistas da área em debates e palestras.
O deslocamento na região é feito basicamente pelos rios, que são navegáveis por 22 a 25 mil quilômetros. “A vida caminha nas águas”, diz ele, acrescentando que moradia e comércio também são feitos no meio dos rios. No entanto, nem sempre é possível se locomover pelos mesmos caminhos, por causa do regime de chuvas. Na estação seca, os rios ficam intransitáveis. O comércio fica prejudicado, os preços sobem e a população sente falta de comida. “Aí entra o exército brasileiro”, diz Antunes, “as forças armadas dão apoio social e levam suprimentos”. A “mão amiga” do exército tem a missão de trazer alimentos, materiais de construção e de evacuar cidades afetadas pelas cheias ou secas.
FRONTEIRAS
O Brasil tem 15 mil quilômetros de fronteira. Desses, 11 mil estão sob o comando militar da Amazônia. Isso significa quatro vezes o tamanho da fronteira entre os Estados Unidos e o México. Mas enquanto a fronteira norte-americana é protegida em quase toda sua extensão, a fronteira entre o Brasil e os países vizinhos é difusa e permeável, entre selva e rios.
O general Antunes afirma que o Brasil tem boas relações com seus vizinhos, mas a vigilância de delitos transfronteiriços ainda empreende grande parte do contingente. “Entram rios no Brasil de todas as direções”, diz Antunes. Mais de 9.500 quilômetros de fronteira abrangem rios, lagos e bacias hidrográficas. Além disso, parte da fronteira é composta por áreas de proteção ambiental ou terras indígenas, onde não é possível construir estradas ou postos de controle.
Em junho de 2011, foi criado o Plano Estratégico de Fronteiras. No discurso de inauguração, no dia 8 de junho, a presidente Dilma Rousseff disse que acredita que “o Brasil e todos os países fronteiriços, os dez países fronteiriços ao Brasil, que têm hoje relações extremamente fraternas e de cooperação, têm todas as condições para (…) combater todas as formas de crime organizado, que escolhe as fronteiras como regiões mais frágeis e, portanto, mais próprias para sua atuação”.
Apesar desse plano, do Centro de Operações Conjuntas e da coordenação de forças entre o Ministério da Defesa e do Ministério da Justiça, as operações ainda são muito caras. A presença estatal nessas regiões é reduzida e há grande deficiência de programas na área de saúde e educação.
Com duração de 20 a 30 dias, as operações são feitas em regime de rodízio; cada uma das cinco brigadas do CMA faz uma operação por ano. O deslocamento de tropas é dispendioso e, em muitas áreas, só é possível chegar pela força aérea. Por pelotão, a média é de 450 a 500 km de fronteira para cada 70 militares e o deslocamento é muitas vezes feito a pé. Para Antunes, “os meios restringem a capacidade de emprego”, porque o exército só possui uma brigada paraquedista e os helicópteros usados precisam de manutenção constante.
Apesar dos obstáculos apresentados pela Amazônia, o general ainda se despede da plateia com a saudação típica dos militares do CMA, uma forma de dar um sentido de união para o combatente: “Selva!”.
Por – Karin Salomão – Karin Salomão é aluna do 4º ano de jornalismo da USP. Está cursando o módulo “Descobrir a Amazônia, descobrir-se repórter”, do Projeto Repórter do Futuro, da Oboré-projetos especiais em comunicações e artes. O projeto consiste em encontros semanais durante sete sábados, com palestras com os principais pesquisadores e atores da Amazônia, discutindo temas relevantes e atuais. São temas como a questão agrária, direito indígena, hidrelétricas, biodiversidade, entre outros.
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