Um estudo inédito do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre queimadas e emissão de fumaça no Acre concluiu que, embora as contribuições de fumaça produzida remotamente sejam relevantes, nos meses de maiores níveis de poluição atmosférica (julho, agosto e setembro) predomina a contribuição da produção local para o conteúdo de fumaça que atinge as principais cidades do Estado.

O estudo foi encomendado ao Inpe pelos Ministérios Públicos do Estado do Acre e Federal. A partir da análise de imagens de satélite, trabalhou-se em busca de se confirmar, ou não, a hipótese de que parte significativa da fumaça que se concentra na região durante a estiagem amazônica seja oriunda da Bolívia, do Peru, além de outros estados brasileiros, conforme alegava anualmente o governo estadual.

Nos meses mais críticos, os níveis de poluição do ar no Acre ficam próximos ou acima dos patamares da Organização Mundial de Saúde.

– A fumaça das queimadas produz grandes impactos no ambiente, o que inclui mudança no balanço de radiação, evapotranspiração, chuva, nebulosidade, degradação da qualidade do ar para todos os seres vivos etc. – disse o físico Saulo Ribeiro de Freitas, que realizou pós-doutoramento na Nasa Reseacrh Center e autualmente é pesquisador titular do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe.

De acordo com Ribeiro, a quantidade de fumaça em uma dada região depende, em geral, da produção local e da importação de produção remota.

– A poluição na região transfronteiriça do Acre (Brasil), Madre de Dios (Peru) e Pando (Bolívia) é largamente controlada pela circulação atmosférica, a qual é governada pelas leis da física – explicou Ribeiro, que usou para o diagnóstico modelos de previsão de tempo, clima e qualidade do ar e um supercomputador do Inpe com 31 mil processadores para os cálculos.

Resultado de condições climáticas adversas, em 2005, a Amazônia, particularmente o Acre, passou por uma situação de extrema gravidade.

Três anos depois, os Ministérios Públicos propuseram uma ação civil pública com a finalidade de reduzir gradativamente as autorizações para queimadas, exigindo que fossem elaboradas e disponibilizadas pelo governo estadual alternativas ao uso do fogo.

Por meio de uma decisão liminar, que está parcialmente em vigor, as autorizações para queima estão suspensas em todo o Acre neste ano.

– Os meses de maiores níveis de poluição atmosférica no Acre são julho, agosto e setembro. A fumaça gerada em Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não afetam o Estado. Isso ocorre raramente quando ventos muito fortes de uma frente fria na região sul atingem o Acre – explicou o pesquisador do Inpe.

Por: Altino Machado
Fonte: Terra Magazine/ Blog da Amazônia