Representantes da ODIC e da Universidade Federal de Roraima lançam novo projeto (Folha de Boa Vista)

 Eles representam cerca de 30 mil pessoas que vivem na cidade de Boa Vista. Destas, alguns já nasceram na capital e outra grande parcela migrou das comunidades mais próximas, como da região da Malacacheta ou Serra da Lua, ambas localizadas no Município de Cantá, a 26km de Boa Vista. Tratam-se dos índios que vivem na cidade e que saíram há tempos de suas comunidades.

Entre os principais motivos para o êxodo rural indígena estão a educação, trabalho e saúde. Mas, na realidade urbana, o enfretamento do preconceito e da discriminação faz parte da vida cotidiana desses povos, comprovados cientificamente no estudo, realizado em 2007, intitulado “Diagnóstico da Situação dos Indígenas na Cidade de Boa Vista”, e ainda “Projeto Kuwai kîrî – A experiência amazônica dos índios urbanos de Boa Vis/RR”, realizado em 2009. As duas atividades foram promovidas pela ODIC em parceria com Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Foi a partir desses estudos que as duas entidades voltaram a se unir para organizar outro trabalho, desta vez é o “Projeto Cartografia da Violação dos Direitos dos Indígenas de Boa Vista”, que realizará um mapeamento situacional dos indígenas que residem na capital roraimense, evidenciando a violação dos direitos indígenas.

Segundo Eliandro de Souza, representante da ODIC, o projeto tem a intenção de oferecer aos indígenas conhecimentos que os capacite para o diálogo com o poder público e fortaleça a organização do movimento indígena na cidade. “Vamos mais uma vez identificar os problemas que afligem a comunidade urbana indígena, mas desta vez mapear a violação dos direitos dos indígenas, como, por exemplo, a invisibilidade que acontece quando vamos aos postos de saúde ou em outros espaços públicos”, destacou.

Além disso, o projeto pretende contribuir para o reconhecimento dos indígenas citadinos, favorecendo a cidadania e inclusão destes na UFRR e demais espaços da sociedade, além de possibilitar a esses alunos indígenas cursos de graduação e experiências como bolsistas e em cursos de extensão.

Fascículo com demandas e mapa será produzido ao final do projeto

 
O resultado final do projeto da cartografia será a produção de um fascículo que vai comportar as principais reivindicações dos índios urbanos e ainda um mapa geográfico que localiza os pontos de violação dos direitos humanos. Segundo a coordenadora do projeto, professora doutora Carmem Lúcia Lima, todo o conteúdo do produto será feito pelos próprios índios.

“Quero destacar que a solicitação para a realização do Projeto Cartografia da Violação dos Direitos dos Indígenas de Boa Vista foi solicitado por eles mesmo. Essa é a principal ideia: deixar que os próprios índios se apropriem desse projeto e desenvolva as atividades”.

Para isso, 40 indígenas vão participar de minicursos e oficinas com variados temas como: A questão dos índios cotidianos, Política Indigenista do Estado Brasileiro, Os Direitos Humanos da População Indígena, Pluralismo Jurídico e Direitos Indígenas, o Ministério Público e a Defesa dos Direitos Indígenas, Métodos Cartográficos e ainda Uso de GPS.

“Essas pessoas que vão participar do curso são lideranças de base, que vão nos ajudar depois a construir o mapa. Temos ainda 14 indígenas bolsistas que estão diretamente ligados ao projeto e visitarão 11 bairros considerados com grande incidência de índios”, afirmou.

Para Olga Barbosa, representante da Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (Omir), esse trabalho vai ajudar na garantia dos direitos das mulheres. “Sabemos que muitas trabalham como empregada doméstica, onde não são valorizadas e muito menos seus direitos sociais são garantidos. Dessa forma, se dará mais visibilidade a essas mulheres e ainda vai mostrar que nós existimos e precisamos ser valorizadas”, comentou.

Os minicursos iniciam no próximo final de semana. A previsão é finalizar o projeto em novembro deste ano em um seminário. Os bairros onde serão mapeadas as principais violações dos direitos dos indígenas de Boa Vista são: 13 de Setembro, São Bento, Raiar do Sol, Araceli, Bela Vista, Monte das Oliveiras, Cauamé, Cidade Satélite, Silvio Leite, União e Caimbé. 

Segundo Carmem, atualmente não se sabe ao certo a quantidade de índios que vivem na cidade, mas nas últimas pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Prefeitura de Boa Vista, há mais de cinco anos, são 30 mil. “Acreditamos que esse número já esteja ultrapassado”, disse.

O projeto foi contemplado pelo edital da Pró-Reitoria de Extensão da UFRR, e serão investidos R$44,000.00, disponibilizando 14 bolsas divididas entre os indígenas que vão aos bairros para a pesquisa e ainda para compra de materiais de expediente e aquisição de GPS. Os recursos são do Ministério da Educação (MEC). 

FONTE : Folha de Boa Vista