O isolamento das tribos amazônicas motivou uma cobrança dura do cacique da etnia tiryós (tiriyós), Mario Nachau, ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), durante a passagem dele no Município de Tiryós (a 930 quilômetros de Belém) por ocasião da Operação Ágata 4. São tiryós 17 dos 35 soldados do Pelotão Especial de Fronteira do Exército brasileiro (PEF) na localidade.
Após ouvir a cobrança de Mario Nachau, Temer disse que o Estado precisa estar presente nessas áreas e destacou a importância da realização da Operação Ágata 4. Ele revelou também que o governo desenvolve um plano estratégico para proteção das fronteiras .
Aproximadamente 2 mil índios das etnias tiryós e kaxuyana têm o Exército como a única presença do Estado na fronteira entre o Pará e o Suriname. Eles criticam a falta de apoio do poder público. Os índios esperam por visitas que levam remédios alimentos, utensílios de higiene e vestuário que demoraram até três meses para ocorrer.
O depoimento do cacique também reflete a realidade precária que os militares vivem na região. O pelotão tem um contingente de apenas 35 militares, sendo 17 indígenas, para proteger uma faixa de 1.385 quilômetros de fronteira seca entre o extremo Norte do Pará e o Suriname.
Segundo o comandante da 8ª Região Militar do Comando Militar da Amazônia, Carlos Alberto de Sousa Peixoto, o pelotão deveria ter atualmente 66 militares. A extensão da área significa que, se fossem espalhados, cada um dos 35 militares seria responsável pela cobertura de 39,5 quilômetros quadrados de fronteira.
No entanto, na prática não há como vigiar toda a região. Os próprios militares admitem que o contingente é insuficiente para proteger o Brasil contra crimes que ocorrem na fronteira e que vão desde contrabando e descaminho a tráfico de drogas, extração ilegal de madeira e garimpo ilegal.
Isolamento
Essa fronteira da Amazônia não tem a estrutura de estradas e os militares a patrulham por terra percorrendo grandes distâncias.
A realidade foi constatada pelo Ministério da Defesa que levou uma comitiva das Forças Armadas, além do vice-presidente Michel Temer, para conhecer a situação in loco. A CRÍTICA foi o único jornal impresso do Amazonas que acompanhou a visita e a angústia dos índios e militares no município frente ao isolamento. O pelotão do Exército em Tiryós é o único em uma faixa de 400 quilômetros.
O pelotão mais próximo não tem ligação por terra. O isolamento terrestre é a principal dificuldade para chegar a região, que tem nas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) o único elo com os demais Estados do Brasil.
Só há como chegar a Tiryós de avião no aeródromo do município que é mantido como base da Aeronáutica. No local, os militares operam um radar do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) transmitindo informações para o 4º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 4), em Manaus.
A área é considera estratégica para a defesa do Brasil contra ameaças de crimes. O ministro da Defesa, Celso Amorim, bem como, o vice-presidente Michel Temer não chegaram a falar que a região é um ponto fraco do sistema de defesa brasileiro, mas falaram da preocupação com o pequeno número de militares na área.
Oiapoque (AP)
A Operação Ágata 4 é realizada pelo Ministério da Defesa e A CRÍTICA vai mostrar, numa série de reportagens, aspectos relevantes dela e da região abrangida pelas ações. Amanhã o destaque é a região do Oiapoque, no Amapá.
Logística atrapalha obra do pelotão
Os militares do Pelotão Especial de Fronteira de Tiryós (PA) têm apenas quatro horas de energia elétrica por dia porque não há como levar diesel suficiente para abastecer os geradores. Por conta disso o combustível é racionado. Com a Operação Ágata 4, os militares passaram a ter oito horas de energia. No entanto, o período deve ser reduzido após o fim da operação.
Segundo o comandante da 8ª Região Militar do Comando Militar da Amazônia, Carlos Alberto de Sousa Peixoto, ainda há muito a se fazer no PEF de Tiryós. Ele aproveitou a visita do vice-presidente Michel Temer e do Ministro da Defesa, Celso Amorim, para apresentar o cenário de dificuldades do pelotão e pedir melhorias. Desde 2010, o general dispõe de recursos para concluir a obra do pelotão, que há 27 anos espera por melhorias. A obra, contudo, não termina porque não há aeronaves para transportar o material e empresas que se interessem em assumir o serviço.
“Tivemos duas licitações vazias porque nenhuma empresa se interessou em fazer a obra”, disse complementando que a distância e a difícil logística a ser empregada tiram o interessem pelo serviço.
Conforme o comandante Peixoto, apesar do pelotão existir há mais de duas décadas, até 2003 os militares se abrigavam em barracas. Os pequenos avanços foram a construção de casas. “Não é falta de recurso é falta de condição de executar. Conseguimos licitar e empenhar obra, mas não temos como levar material”, frisou.
Indígenas são maioria na unidade
Dos 17 soldados do pelotão que são da etnia tiryós apenas dois falam o português. Eles foram incorporados ao Exército brasileiro em 2009.
Na região, os tiryós recebem apoio de uma missão de padres alemães e dos militares. Os padres estão no local há duas décadas e também dependem das aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para ter contato com os outros Estados.
Segundo o cacique tiryós Mario Nachau, os índios não querem se manter no isolamento e precisam da presença do Estado para melhorar a vida deles. A necessidade foi ratificada depois que os índios receberam auxílio médico e odontológico na Ação Cívico-Social (Aciso) das Forças Armadas.
Em dois dias, mais de 400 índios foram atendidos nas especialidades de ginecologia, pediatria, clínica médica e ortopedia. O fator alarmante foi a identificação de 100% das crianças indígenas com subnutrição infantil.
FONTE : A Crítica
Nota Ecoamazônia – A comunidade indígena é, também, identificada como TIRIYÓS
Deixe um comentário