PA – Documentário paraense tem pré-estreia no Olympia

Na Amazônia, cerca de 25 mil plantas conhecidas são utilizadas para inúmeros fins, num fluxo de transmissão de conhecimentos tradicionais que desafia o tempo, as descobertas farmacológicas e todo o avanço técnológico conquistado desde o início do século XX.

A cineasta Zienhe Castro mergulha neste universo complexo de valores e tradições místicas e investiga o uso de ervas medicinais no documentário “Ervas e Saberes da Floresta”, que terá sua pré-estreia hoje, na noite do centenário do Cine Olympia. O projeto classificou-se entre os 100 melhores roteiros cinematográficos do Brasil para documentários no edital do Ministério da Cultura e também entre os 20 roteiros selecionados pelo edital de audiovisual do Programa Petrobras Cultural em 2010.

Segundo a diretora, a pesquisa para realização do filme consumiu sete anos. “Sempre tive a intenção de contribuir com o debate crítico em torno da cultura amazônica”, diz Zienhe. “Estudar os saberes tradicionais e o uso de ervas, referências culturais de todo paraense, está nesse bojo. A maioria de nós nasceu tomando chazinho e banho de cheiro, além da convivência com o Ver-o-Peso e toda essa atmosfera. Minha intenção é falar de temas pertinentes à nossa região e que estão se perdendo lentamente, tornando-se cada vez mais distantes das novas gerações”, explica.

As filmagens percorreram Belém, Santarém, Oriximiná, Igarapé Miri, São João de Pirabas e Ilha do Marajó. Durante a viagem, a equipe ouviu pesquisadores, médicos, erveiras e mateiros. Também visitou locais como a Floresta Nacional do Tapajós – importante área de preservação localizada nos limites dos municípios de Belterra, Aveiro, Placas e Ruropólis, no oeste do Pará -, e conheceu iniciativas como a Farmácia Viva localizada na comunidade Caranazal, próximo a Alter do Chão.

Pesquisa consumiu sete anos

No filme, muitas histórias se entrelaçam. Histórias de mulheres fortes, empenhadas diariamente em manter viva a tradição – como Maria de Jesus Pantoja Salles, a Dona Quinina, 66. Não é fácil chegar até sua casa, na comunidade do Céu, em Soure. É preciso vencer 14 quilômetros de lama – primeiro de carro, depois a pé, em pontes improvisadas e estradinhas de terra.

“As coisas antigas, ‘tudo se perdeu’. Os mais novos não querem se preocupar em ‘prantar’, não querem aprender com os mais velhos”, disse. “Aprendi muito com minha mãe, minha avó. Já curei um apêndice com casca de barbatimão, que é boa pra inflamação, pra tudo, assim como a folha do hortelã grande. Minha mãe de leite ensinava os remédios e eu fazia pros meus filhos. Criei 12 assim. O que é dos médicos, é dos médicos. Mas o que é das ervas, ah, é delas”, ensina.

Sobre a diretora

Além de “Ervas e Saberes da Floresta”, Zienhe também realizará em 2012 o curta-metragem de ficção “Promessa em Azul e Branco”, baseado no conto homônimo de Eneida de Moraes e premiado pelo edital do MinC em 2009. Ela também se dedica ao roteiro de “Eneida”, cinebiografia da escritora paraense, e ao roteiro do longa-metragem “Porto Esperança” um river-movie que contará a saga de seu pai, Levindo Pureza – hoje com 93 anos – e suas memórias sobre os 50 anos de expedições fluviais pelos rios da Amazônia. O projeto deverá ser rodado em janeiro de 2012.

FONTE : Diário do Pará

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1 Comentário

  1. Tenho certeza que o filme é ótimo, apenas pelo tema. O conhecimento das ervas é fantástico, e precisamos preservá-lo, devido a todo bem que já nos trouxe. Idéias como essa deviam ser fonte de inspiração para outros cineastas explorarem mais esse mundo das plantas.

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