A discussão em torno do Código Florestal segue apaixonada. Felizmente, estamos no final desse lento e árduo processo, e após anos de debates – entre os quais se destacaram as dezenas de audiências públicas realizadas pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, por todo o País – a presidente da República deverá vetar alguns artigos realmente desequilibrados e enviar ao Congresso uma medida provisória corrigindo as distorções ali contidas: definir bem as APPs e deixar claro que não haverá nenhum tipo de anistia para quem não cumpriu a legislação vigente na ocasião do desmatamento praticado.

Feitas essas mudanças, teremos afinal um instrumento definitivo a nortear o procedimento de produtores rurais de todo o País. E a paz reinará no campo, mesmo com a oposição de algumas pessoas que não leram o Código Florestal e não gostam dele.

Enquanto isso, seria interessante voltar os olhos para o outro lado desse assunto. Todo mundo sabe que o Brasil tem hoje aproximadamente 65% de suas formações florestais conservadas, ou seja, cerca de 40% do território brasileiro. Esse é um patrimônio formidável que precisamos exibir na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, de 13 a 22 de junho próximo, no Rio.

Mais do que isso, porém, há um dado que quase ninguém conhece: temos sete milhões de hectares de florestas plantadas no País! E a área vem crescendo, especialmente para atender à indústria de celulose e papel. Essas florestas já são fonte para mais de cinco mil produtos do nosso dia a dia, como móveis, ferramentas, construção civil, cosméticos, siderurgia, painéis de madeira, produtos farmacêuticos, produtos de limpeza e outros, sem contar a aplicação em biocombustíveis, uma alternativa renovável e verde ao petróleo fóssil.

Um dado muito interessante é que as florestas plantadas são mais eficientes do que as nativas no sequestro de CO, gás cuja redução de emissão é uma prioridade. O ciclo do eucalipto, por exemplo, é de sete anos entre o plantio e a colheita, e as árvores estão em constante crescimento, uma vez que, assim que são colhidas, novas mudas são plantadas em seu lugar, perpetuando o ciclo plantio/colheita.

Quanto mais jovem uma árvore, maior necessidade de energia ela tem para crescer, e isso significa novas absorções de carbono. Já as árvores maduras, como as das florestas nativas, por exemplo, exigem menos energia e, em contrapartida, sequestram menos carbono. Por isso, as florestas plantadas são uma oportunidade para a criação dos mecanismos de crédito de carbono florestal, que vão ajudar o País a cumprir seus compromissos na redução do aquecimento global.

Outro tema interessante relativo às florestas plantadas é a inesgotável fonte de pesquisas ligadas à sustentabilidade, questão fundamental para o futuro da humanidade. Algumas áreas mais avançadas da ciência, como a nanotecnologia e a biotecnologia, estão olhando para as florestas. Através da nanotecnologia – ciência que estuda a matéria em escala atômica e molecular e tem como princípio básico a construção de produtos a partir de átomos – será possível obter, nos próximos anos, novas gerações de produtos florestais, mais duráveis e leves, mais fortes e resistentes.

A biotecnologia foi a tecnologia agrícola mais adotada nos últimos dez anos. O Brasil assumiu papel de destaque, ocupando o segundo lugar do ranking de área plantada com organismos geneticamente modificados (OGMs) no mundo – uma área equivalente a mais de 30 milhões de hectares, segundo o International Service for the Acquisition of Agro-Biotech Application.

Na área florestal, a biotecnologia arbórea – ou árvores geneticamente modificadas – encontra-se em fase de testes e de estudos, no Brasil e no exterior. Sua utilização permitirá o incremento do volume e do valor de produção florestal, a provisão de melhorias ambientais, a conservação de biodiversidade e a redução da pobreza, através da capacitação de pequenos produtores para a atividade florestal. Ou seja, é uma alternativa potencial para os desafios que temos a enfrentar.

Artigo de Roberto Rodrigues – Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, professor do Departamento de Economia Rural da Unesp – Jaboticabal e foi ministro da Agricultura. Artigo publicado na Folha de São Paulo de sábado (19).

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