Trundling along the dirt roads of the Amazon, the giant logging lorry dwarfed the vehicle of the investigators following it. The trunks of nine huge trees were piled high on the back – incontrovertible proof of the continuing destruction of the world’s greatest rainforest and its most endangered tribe, the Awá.

Yet as they travelled through the jungle early this year, the small team from Funai –Brazil‘s National Indian Foundation – did not dare try to stop the loggers; the vehicle was too large and the loggers were almost certainly armed. All they could do was video the lorry and add the film to the growing mountain of evidence showing how the Awá – with only 355 surviving members, more than 100 of whom have had no contact with the outside world – are teetering on the edge of extinction.

It is a scene played out throughout the Amazon as the authorities struggle to tackle the powerful illegal logging industry. But it is not just the loss of the trees that has created a situation so serious that it led a Brazilian judge, José Carlos do Vale Madeira, to describe it as “a real genocide”. People are pouring on to the Awá’s land, building illegal settlements, running cattle ranches. Hired gunmen – known as pistoleros – are reported to be hunting Awá who have stood in the way of land-grabbers. Members of the tribe describe seeing their families wiped out. Human rights campaigners say the tribe has reached a tipping point and only immediate action by the Brazilian government to prevent logging can save the tribe.

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Percorrendo as estradas de terra da Amazônia, o grande caminhão madeireiro apequenava o veículo dos investigadores que o seguia. Na caçamba, troncos de árvores gigantescas formavam uma pilha alta –prova inegável da destruição continuada da maior floresta tropical do planeta e da tribo indígena que enfrenta os mais graves riscos, os guajás.

Mas ao percorrer a selva no começo do ano, a pequena equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) brasileira não ousou tentar deter os madeireiros; seu veículo era grande demais, e os ocupantes quase certamente estavam armados. Tudo que puderam fazer foi filmar o caminhão e acrescentar o vídeo às provas cada vez mais volumosas que mostram de que modo os guajás –uma tribo com apenas 355 sobreviventes, mais de cem dos quais sem qualquer contato com o mundo externo– oscilam à beira da extinção.

É uma cena que se repete em toda a Amazônia, enquanto as autoridades se esforçam para impor controle à poderosa indústria madeireira ilegal. Mas não é apenas a perda de árvores que criou uma situação séria a ponto de o juiz brasileiro José Carlos do Vale Madeira descrevê-la como “verdadeiro genocídio”.
As terras dos guajás não param de ser invadidas, para a construção de assentamentos ilegais e criação de fazendas de pecuária. Há acusações de que pistoleiros mercenários estão caçando os guajás que tentam impedir a invasão de suas terras. Membros da tribo descrevem a execução de famílias inteiras. Ativistas dos direitos humanos dizem que a tribo chegou a um momento decisivo, e que apenas ação imediata do governo brasileiro para impedir a exploração madeireira pode salvá-la.

Esta semana, a Survival International lançará uma nova campanha para revelar a situação dos guajás, com apoio do ator Colin Firth, 51. Em vídeo que será lançado quarta-feira (25), Firth, ganhador do Oscar, apelará ao governo brasileiro por ação urgente de proteção à tribo.

O ator, astro do filme “O Discurso do Rei”, grande sucesso em 2011, ganhou fama interpretando Mr. Darcy em uma adaptação de “Orgulho e Preconceito” produzida em 1995 pela BBC, e apela diretamente ao ministro da Justiça brasileiro, no vídeo, pelo envio de policiais para expulsar os madeireiros.

Os guajás são uma das duas únicas tribos de caçadores-coletores nômades que restam na Amazônia. De acordo com a Survival International, se tornaram a tribo em mais alto risco no planeta, sob ataque de madeireiros, pistoleiros e colonos agrícolas hostis.

Os problemas da tribo começaram a se agravar em 1982, com a estreia de um programa da Comunidade Econômica Europeia (CEE) e do Banco Mundial para a exploração dos ricos depósitos de minério de ferro na serra de Carajás. A CEE deu US$ 600 milhões ao Brasil para a construção de uma ferrovia ligando as minas à costa, sob a condição de que um terço da produção mínima de 13,6 milhões de toneladas anuais fosse destinado à Europa, por 15 anos.

A ferrovia atravessava diretamente as terras dos guajás, e com ela vieram colonos. Um programa de construção de rodovias não demorou a surgir, abrindo o lar florestal dos guajás aos madeireiros, que chegavam do leste.

De acordo com Fiona Watson, diretora de pesquisa da Survival International, essa foi a receita para um desastre. Um terço do território dos guajás nas selvas do Maranhão, nordeste do Brasil, foi destruído, desde então, e forasteiros expuseram a tribo a doenças contra as quais ela não tem imunidade natural.

“Os guajás e a porção não contatada da tribo estão realmente à beira da extinção”, ela diz. “A população é extremamente pequena e as forças que se alinham contra eles são imensas. Estão sendo invadidos por madeireiros, colonos e pecuaristas. Dependem totalmente da floresta, e me disseram que se não tiverem floresta não serão capazes de alimentar suas crianças, e que elas morrerão”.

DESTRUIÇÃO E VIOLÊNCIA

Mas ao que parece os guajás enfrentam ameaça mais direta. No começo deste ano, uma investigação sobre denúncias de que uma criança guajá teria sido morta por madeireiros constatou que um acampamento da tribo havia sido destruído por tratores.

“Não é apenas a destruição da terra, mas também a violência”, diz Watson. “Conversei com guajás que sobreviveram a massacres. Entrevistei guajás cujas famílias foram fuziladas diante deles. Há pessoas imensamente poderosas que agem contra eles. Os posseiros utilizam pistoleiros para limpar as áreas que desejam ocupar. Se isso não for detido agora, esse povo pode ser exterminado. É uma extinção, ocorrendo bem diante de nossos olhos”.

O mais notável sobre o vídeo registrado pela equipe de investigação sigilosa da Funai, além do imenso tamanho dos troncos, é a ausência de selva nos locais de filmagem. No passado, uma floresta tropical luxuriante ocupava a região. Agora, todas as árvores foram removidas, deixando apenas grama e mataria baixa, e apenas alguns tocos de árvores dispersos.

A afinidade dos guajás pela floresta e seus habitantes é tamanha que, se encontram um animal bebê em suas caçadas, levam-no com eles e o criam quase como a um filho; há casos em que a criatura é amamentada por mulheres da tribo. A perda de sua selva os levou ao desespero. “Estão derrubando as árvores e vão destruir tudo”, disse Pire’i Ma’a, membro da tribo. “Macacos, pecaris, tatus, todos estão fugindo. Não sei como vamos comer –tudo está sendo destruído, a área toda”.

“Essa terra é minha, é nossa. Eles podem voltar à cidade, mas nós índios vivemos na floresta. Vão matar tudo. Tudo está morrendo. Vamos todos passar fome, as crianças passarão fome, minha filha passará fome, e eu passarei fome também”, afirmou.

Em entrevista anterior à Survival International, outro membro da tribo, Karapiru, descreveu a morte da maioria dos membros de sua família, vítimas de agricultores invasores. “Eu me escondi dos brancos na floresta. Mataram minha mãe, meus irmãos e irmãs e minha mulher”, ele contou. “Levei um tiro durante o massacre e sofri muita dor, porque não conseguia aplicar remédio em minhas costas. Não via a ferida. Foi sorte eu ter escapado -foi obra de Tupã. Passei muito tempo na floresta, faminto e perseguido pelos agricultores. Estava sempre correndo, sozinho. Não tinha família que me ajudasse, com quem conversar. Por isso penetrei cada vez mais na floresta”.

“Espero que minha filha cresça sem enfrentar as dificuldades que eu tive. Espero que tudo seja melhor para ela. Espero que as coisas que me aconteceram não aconteçam a ela”, acrescentou.

A campanha da Survival International reflete a crescente preocupação internacional quanto aos problemas das tribos indígenas que ainda restam no planeta. Alguns meses atrás, o “Observer” revelou que a polícia estava conspirando com agentes de turismo nas ilhas Andaman, parte da Índia, para a realização de safáris humanos no coração do território silvícola dos jarawa, uma tribo protegida. Um vídeo mostrando mulheres e meninas jarawa seminuas dançando em troca de comida causou indignação na Índia e em todo o mundo. Surgiram outras revelações, expondo safáris humanos no Estado indiano de Orissa e no Peru, onde agências de viagem estavam explorando tribos indígenas da Amazônia.

E traficantes de drogas representam ainda outra ameaça às tribos amazônicas. No ano passado, uma tribo que até então vivia sem contato foi fotografada do ar perto da fronteira entre o Peru e o Brasil mas desapareceu de novo meses mais tarde, quando uma quadrilha de traficantes de drogas derrotou os seguranças que protegiam seu território.

OUTRO LADO

A Embaixada do Brasil em Londres informou que questões quanto a essa situação deveriam ser encaminhadas ao secretariado de direitos humanos da Presidência da República, que não respondeu. Mas o Brasil pode se defender mencionando pesquisas recentes que demonstram progresso no combate à exploração madeireira ilegal. O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial brasileiro estima que 6.238 km² de floresta tropical tenham sido perdidos entre 2010 e 2011, uma queda dramática ante o pico de 27,7 mil quilômetros quadrados de 2004. Naquele ano, o Brasil prometeu reduzir seu desflorestamento em 80% até 2020.

A queda na área desmatada foi de 11% no ano passado, e em 2011 o departamento florestal brasileiro realizou uma operação de busca que resultou no fechamento de 14 serrarias ilegais nos limites do território guajá. Mesmo assim, as estatísticas também demonstram que dois Estados registraram alta acentuada no desmatamento e que a exploração madeireira ilegal está destruindo a selva dos guajás em ritmo mais acelerado do que o verificado para qualquer outra tribo amazônica.

A Survival International divulgou declaração na qual insta o governo brasileiro a ampliar seu apoio à Funai e seus esforços para reprimir as atividades ilegais no território dos guajás. “A questão é premente, e o momento agora, porque embora nem toda esperança esteja perdida, todo um povo está à beira de se perder, especialmente os guajás não contatados. Temos a responsabilidade moral de agir. Dinheiro da União Europeia e do Banco Mundial ajudou a financiar grandes projetos que exploraram os recursos da terra dos guajás, no Brasil, e criaram infraestrutura que permite exploração”.

A campanha da Survival International será lançada ainda esta semana no site www.survivalinternacional.org. (disponível em: 24/04/2012)

VER MAIS EM: http://www.garynull.com/home/gethin-chamberlain-theyre-killing-us-worlds-most-endangered.html (disponível em: 24/04/2012)

Relacionada: Os guajás, uma tribo em perigo, pedem ajuda – 24/04/2012 – Ilustríssima – Folha de S.Paulo (uol.com.br) awa