“Parece que todos os negociadores sofrem de uma doença, parece que todos têm problema em não escutar direito”, disse Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional, ontem, em Manaus. Ele se referia aos diplomatas envolvidos com negociações internacionais do gênero das que precedem a Rio+20. “Não ouvem o que a ciência está dizendo. Ainda temos algumas semanas antes da conferência. Espero que os representantes de governo possam internalizar em suas discussões o que outros estão falando.”

Naidoo falava de dentro do Rainbow Warrior, o barco mais novo e sustentável da ONG, que chegou ao Brasil para as comemorações dos 20 anos de Greenpeace no país e para as campanhas da Rio+20. “Com a Rio+20, em junho, temos que mandar uma mensagem à presidente Dilma”, prosseguiu Naidoo. “Ela tem uma oportunidade única de dar ao mundo uma mensagem-chave: que o Brasil está comprometido em acabar com a destruição florestal”, continuou. “O Brasil é hoje a sexta maior economia do mundo. E o mais importante: o país tornou-se a sexta maior economia do mundo reduzindo o desmatamento. O Brasil não precisa destruir a floresta para demonstrar que é um país forte.”

Naidoo participou do lançamento de uma campanha da ONG para que o país tenha uma lei de desmatamento zero. A intenção é levar ao Congresso uma proposta de lei de iniciativa popular. Para tanto, a ONG precisa arrecadar assinaturas de 1,4 milhão de pessoas, o que corresponde a 1% dos eleitores brasileiros. Até o fim de 2013, o Greenpeace espera conseguir arrecadar assinaturas suficientes para encaminhar a proposta ao Congresso. O Rainbow Warrior que descerá a costa brasileira e chegará ao Rio de Janeiro para a conferência, será utilizado nesta iniciativa.

“As mudanças que estão sendo debatidas no Código Florestal são sobre o passado, sobre como resolver o problema de quem desmatou”, explica Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Nossa ideia, agora, é beneficiar a floresta. É uma ideia para o futuro. O Brasil não precisa desmatar mais para se desenvolver, nem a agricultura precisa abrir mais áreas para dobrar a produção de alimentos”, continua. Pela proposta do Greenpeace, ficaria proibido o corte de floresta nativa e novos desmatamentos. Há exceções para grupos indígenas, extrativistas e quilombolas e um prazo de 5 anos para que os agricultores familiares tenham capacitação técnica para o uso sustentável da floresta.

FONTE: Valor Econômico