A mídia em geral veiculou uma série de matérias envolvendo a utilização da água de forma consciente como forma de marcar a passagem do “Dia Mundial da Água” – 22 de março -. Data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992.

No dia Mundial da Água, comemorado nesta quinta-feira (22), o alerta é para a falta de gerenciamento dos recursos hídricos. O fator é uma ameaça para a conservação do manancial que pode estar com os dias contados. O Amazonas possui a maior reserva de água doce do mundo, mas isso pode acabar. Na avaliação do gerente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marco Antônio Oliveira, a construção desordenada de poços artesianos coloca em risco a conservação das águas subterrâneas e das fontes de água da bacia amazônica – e pode levar à escassez do recurso.

A água usada para abastecer a maior parte dos moradores das zonas Leste e Norte e dos municípios do interior não vem do rio, mas do subsolo. A concessionária Águas do Amazonas monitora um total de 129 poços só em Manaus. A população também conta com o serviço de carros-pipa para ter acesso ao líquido nas casas, ao pagar uma quantia que chega até R$ 80 por mês. Segundo Marco Antônio, o problema está no descaso do Poder Público e Setor Privado na distribuição de água. A falta de conhecimento sobre a perfuração de poços também acarreta outros prejuízos.

Os reservatórios naturais acima de 200 metros do subsolo já estão contaminados pela ausência de coleta e tratamento adequado do esgoto. No interior do Estado, a situação é mais crítica. O serviço não chega às comunidades ribeirinhas. “Não temos um sistema de coleta adequada, pois a cobertura de tratamento de esgoto não chega a 7% em toda a cidade de Manaus”, alegou. A situação mostra o contra-censo da realidade. “Em áreas como o Oriente Médio, a escassez de água existe, mas aqui nós temos o recurso, o que falta é gerenciamento’, alegou.

O problema de abastecimento mostra um futuro preocupante: a abundância dos recursos pode estar com os dias contados. A análise é de uma pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e CPRM. O mau uso e a falta de normas ocasionam a exaustão de poços artesianos na cidade. A água de qualidade antes encontrada a menos de 120 metros, agora só é possível ser explorada em perfurações de até 200 metros de profundidade. Em perfurações além desta cota, a água não serve mais para o consumo por ser salgada . “As águas subterrâneas mais rasas em torno de 30, 40 e 50 metros já estão contaminadas. A água abaixo de 200 metros de profundidade é a única própria para o consumo”, explicou.

A ausência de coleta não ocasiona apenas a contaminação das águas subterrâneas mais rasas, mas a dos igarapés e fontes de águas urbanas. “No decorrer dos últimos dez anos, a degradação dos rios e das fontes de água piorou e isso não vale só para Manaus, mas para todas as cidades do Brasil. A população cresceu mais do que a capacidade do gestor de levar a coleta de esgotos e esses dejetos vão direto para os igarapés”, salientou. Um ciclo vicioso que pode prejudicar a saúde do consumidor final. “A população acaba tomando essa água contaminada, o que acarreta em problemas de saúde e doenças como a hepatite”, alertou Oliveira.

Quem é o vilão?

O aumento no número de poços irregulares construídos sem padrões ambientais é um vilão antigo das águas dos lençóis freáticos de Manaus. A capital amazonense conta com cerca de 15 mil poços artesianos de distribuição de água. Deste total, apenas 140 centros de distribuição de água são registrados pela concessionária Águas do Amazonas e licenciados pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

Os locais com maior índice poços construídos sem a licença do Ipaam encontram-se na zona Leste de Manaus. Os bairros Jorge Teixeira, Nova Floresta, Gilberto mestrinho, Nova Conquista e Nova Vitória contabilizam a maior quantidade de poços artesianos, segundo levantamento da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Amazonas (Arsam).

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