Nada de Touro ou Cruzeiro do Sul. Os índios brasileiros olham o céu em busca de constelações como a Ema, a Anta e o Homem Velho. Muitas aldeias têm astronomia própria, usada para saber desde as estações até o posicionamento geográfico.
Um conhecimento que, embora tradicional –retratado até em antigas pinturas rupestres–, está ameaçado devido à forte assimilação cultural. Um pesquisador, porém, está trabalhando para resgatar esse saber.
No mês que vem, as escolas indígenas de Dourados (MS) ganharão uma cartilha em português e guarani com a astronomia indígena.
“É um conhecimento que está se perdendo. As escolas indígenas só ensinam a astronomia ocidental. Devemos mostrar as duas culturas”, diz o líder do projeto, Germano Afonso, astrônomo do Museu da Amazônia.
Descendente de índios e nascido em Ponta Porã (MS), ele se tornou fluente em guarani e aprendeu, ainda criança, a conhecer as estrelas pelos nomes indígenas.
Isso, porém, foi suplantado pela astronomia dominante. Só após seu doutorado, na França, ele voltou a ter contato com essas tradições.
“Os índios se orientam pelas estrelas. Elas podem dizer o período de chuvas ou o aumento da presença de insetos. Estou recolhendo informações sobre as características que eles descrevem para ver se há correspondência comprovada. O acerto tem sido impressionante.”
As formas que os astros desenham no céu variam entre as tribos. O Cruzeiro do Sul, para os dessanas, índios próximos a Manaus, representa a Garça. Já para outras comunidades ele é a Pata da Ema ou o Jabuti.
Cada constelação tem um significado. As histórias cheias de simbologia ajudam na memorização das formas.
Uma delas é a constelação do Homem Velho. A tradição diz que um índio velho se casou com uma jovem que, após traí-lo com se irmão, decidiu cortar sua perna e depois matá-lo. Os deuses teriam ficado com pena e transformado o ancião em estrelas.
“Há 20 anos, as pessoas não entendiam a importância dessas tradições. Hoje, o projeto é reconhecido entre astrônomos. E os índios gostam, têm interesse em não deixar sua cultura morrer.”
FONTE: Folha de São Paulo
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