O relatório do Desenvolvimento Humano 2011, divulgado nesta quarta-feira (2) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), é em grande medida voltado às questões ambientais. O documento se intitula “Sustentabilidade e Equidade: Um Futuro Melhor para Todos” e a influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento permeia a maioria dos capítulos.
Já na apresentação, Helen Clark, administradora do Pnud, destaca que “o continuado insucesso na redução dos riscos ambientais graves e das crescentes desigualdades sociais ameaça abrandar décadas de progresso sustentado da maioria pobre da população mundial – e até inverter a convergência global do desenvolvimento humano”.
O documento lembra que, em muitos casos, as populações menos favorecidas são as mais afetadas pela deterioração do meio ambiente, ainda que sejam os que menos contribuem para isso. “Por exemplo, os países com um IDH baixo foram os que menos contribuíram para as alterações climáticas globais, mas sofreram a maior perda de precipitação e o maior aumento na sua variabilidade, com repercussões na produção agrícola e nos meios de subsistência”, diz o relatório.
O relatório ressalta que uma pessoa num país com um IDH muito elevado é responsável, em média, por mais de quatro vezes as emissões de dióxido de carbono e cerca de duas vezes as emissões de metano e óxido nitroso de uma pessoa num país com IDH baixo, médio ou elevado.
O Pnud aponta que existe uma relação não linear entre o IDH e as emissões de carbono num país. Nações com maiores emissões tendem a ter atividade econômica maior, o que faz seu IDH aumentar, mas não implica que tenham bons indicadores em outras componentes do índice, como saúde e educação.
Mas há outras questões ambientais que podem ser mais claramente relacionadas com o IDH. As privações ambientais vividas pelas famílias, como a poluição do ar e a falta de acesso a água potável e saneamento, por exemplo, são mais graves nas regiões com níveis mais baixos de IDH e diminuem à medida que o índice aumenta.
O Pnud considera que, de maneira geral, as tendências ambientais ao longo das últimas décadas “demonstram uma deterioração em diversas frentes”, com efeitos negativos no desenvolvimento humano, especialmente para as pessoas que dependem diretamente dos recursos naturais para subsistência.
Quase 40% da terra no mundo está degradada devido à erosão, diminuição da fertilidade e excesso de pastoreio. O desmatamento é outro problema grave: “entre 1990 e 2010, a América Latina e Caribe, e a África Subsaariana sofreram as maiores perdas florestais”, aponta o texto. E a desertificação ameaça as terras áridas, onde vive um terço da população mundial.
Os fatores ambientais, estima o Pnud, devem provocar um aumento dos preços dos alimentos em 30% a 50% nas próximas décadas.
“Cerca de 350 milhões de pessoas, muitas delas pobres, vivem em florestas ou nas suas proximidades, dependendo destas para a sua subsistência e rendimento. Tanto o desmatamento como as restrições ao acesso a recursos naturais podem prejudicar os mais pobres”, alerta a ONU, que afirma ainda que cerca de 45 milhões de pessoas – pelo menos 6 milhões das quais mulheres -, dependem da pesca como modo de vida e estão ameaçadas pela sobrepesca e pelas mudanças no clima.
Rio+20
O relatório lançado nesta quarta lembra que no próximo ano as atenções do mundo estarão voltadas para a América Latina, que sedia a Rio+20, a conferência sobre desenvolvimento sustentável que fará um balanço dos avanços conseguidos desde a Eco 92 e tentará colocar novas metas para o futuro.
O Pnud destaca a redução do desmatamento na região, que teria se iniciado com as ações de combate à devastação na Amazônia brasileira, a partir de 2005. Ainda assim, há muitas áreas florestais ameaçadas no continente.
Outras ameaças para a América Latina no campo ambiental são o aumento do nível do mar, que poderia inundar áreas costeiras em 31 países da região, e a queda nos estoques de pescado.
Um ponto a favor da América Latina citado no documento é o alto índice de consciência em relação aos riscos das mudanças climáticas. Pesquisas consultadas pela organização indicam que 95% dos latino-americanos acreditam que o aquecimento global é uma ameaça grave, enquanto a média mundial é de 68%.
O Pnud ainda elogia os programas de distribuição de renda como o Bolsa Família, no Brasil, e o Oportunidades, do México, que chegam a cerca de um quinto de suas populações custando 0,4% de seus produtos internos brutos.
Fonte: G1