Natália Garcia estava cansada de pegar quatro horas de engarrafamento por dia, na cidade de São Paulo. Em busca de uma melhor condição de vida, ela decidiu percorrer essas distâncias de bicicleta e metrô, e encontrou mais do que procurava. Ao se mobilizar por um trânsito menos estressante e mais organizado, a jornalista entendeu que a melhor maneira de fazer com que as pessoas se envolvam é fazê-las também ocupar o espaço público, como pedestres.

A partir daí Natália começou a buscar por informações para um trânsito mais saudável e entrevistou o urbanista dinamarquês Jan Gehl – responsável por levar de volta à Copenhague o título de “cidade das bicicletas”. Gehl sugeriu que Natália conhecesse Curitiba, “o melhor exemplo brasileiro”, e assim, a jornalista passou um ano na cidade, produzindo matérias sobre mobilidade urbana e se preparando para uma viagem de um ano, por 12 cidades em diferentes países do mundo – todas com tráfegos terrestres relacionadas a projetos de Gehl.

Natália publicou em seu blog do projeto Cidades para Pessoas, com histórias e matérias fresquinhas de lugares como Londres, Copenhague, Paris, Melbourne, Cidade do México e Amsterdã.

“Eu nunca tive um modo de vida mais saudável. Aliás, bem ao contrário. Eu sempre fui sedentária, consumista, eu sou de família de classe média alta, então ganhei meu primeiro carro aos 19 anos e aos 24 eu já era a típica motorista paulistana estressada, tinha até problemas cardíacos de saúde. Daí comecei a flertar com a possibilidade de pedalar em vez de usar meu carro para me locomover. Em novembro de 2008 eu decidi comprar uma bicicleta dobrável (para poder utilizá-la em curtos deslocamentos ou levá-la dentro do metrô em deslocamentos maiores) e minha relação com minha cidade mudou. Antes eu me protegia dos espaços públicos em meu carro. De bike passei a ocupá-los e esse foi o primeiro passo para começar a me interessar pro planejamento urbano e boas ideias para melhorar cidades”, disse à agência EcoDesenvolvimento.

“Se você perguntar a qualquer paulistano como ele quer melhorar a cidade dele, ele te responderá que quer mais ruas para poder dirigir seu carro sem pegar trânsito. Te digo: por tudo o que li, estudei e experienciei até agora, essa visão está errada. Uma cidade que se pauta pelo transporte particular está fadada ao trânsito e ao caos”, apontou. “O Jan Gehl escreveu seu primeiro livro (Life Between Buildings, sem tradução para português) sobre a vida nas cidades e levantou uma questão que norteou sua carreira: conhecemos o habitat ideal das girafas, dos gurilas e chimpanzés. Mas o que sabemos sobre o lugar ideal para o homo sapiens viver? Infelizmente, muito pouco! E as pessoas que decidem como serão esses habitats estão preocupadas em resolver o trânsito, fazer obras, deixar legados, crias skylines… nunca em criar cidades agradáveis para se viver. Ele criou esse conceito de ‘cidades para pessoas’, que me pareceu interessantíssimo de cara. Por isso resolvi nortear meu projeto pelo trabalho dele.”

Natália disse que o que mais a impressionou nas cidades já visitadas foram os canais de Copenhague. “Eram poluidíssimos, como na maioria das grandes cidades do mundo, mas um projeto de limpá-los que durou 20 anos foi tão bem sucedido que hoje as pessoas podem nadar nos canais de Copenhague. Há até piscinas públicas espalhadas pelos canais. Também gostei muito da forma como Londres está tentando inserir bicicletas como meio de locomoção na cidade.”

A jornalista se frustou com Amsterdã, porém. “Me frustrei com o fato de os políticos serem muito menos acessíveis do que em Copenhague.”

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