A inovação tecnológica é imprescindível para que o setor da construção civil contribua para uma sociedade mais sustentável. Esse é uma das principais conclusões do livro Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, que será lançado nesta quinta-feira (4/8), em São Paulo.

Discutir o desenvolvimento sustentável na construção civil sob do ponto de vista da cadeia produtiva setorial é o objetivo principal do livro de autoria de Vahan Agopyan e Vanderley John, ambos professores da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP).

Trata-se do 5º volume da Série Sustentabilidade, editada por José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, que será lançado no 4º Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável, promovido pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.

De acordo com Agopyan, o livro sistematiza o conhecimento reunido ao longo de mais de uma década de pesquisas e debates a respeito do tema. O início foi em um congresso internacional organizado em 1998 pelo Conselho Internacional da Construção, do qual é membro.

A entidade tem a construção sustentável como uma de suas bandeiras e, durante o evento, elaborou as premissas da Agenda 21 para essa área. Na ocasião, Agopyan e John convidaram os principais representantes do conselho para participar do primeiro congresso de Construção Sustentável no Brasil, em 2000.

“Posteriormente, participamos de um grupo de trabalho que adaptou a Agenda 21 de Construção Sustentável para os países em desenvolvimento, reunindo também pesquisadores da China, da Índia e da África do Sul. Agora, com o livro, tivemos a oportunidade de sistematizar tudo o que foi trabalhado nos últimos dez anos na área”, disse Agopyan à Agência FAPESP.

O livro procura explorar tópicos que ainda não foram suficientemente discutidos pela comunidade científica em relação à construção sustentável, evitando o foco em temas como energia e água, bastante consagrados.

“Procuramos traçar um histórico dos conceitos e do movimento de construção sustentável global e no Brasil, trazendo à tona temas que estão fora da agenda convencional, como a relação entre construção civil e mudanças climáticas, a questão da durabilidade, da interdisciplinaridade e da informalidade relacionadas à sustentabilidade”, disse Agopyan, que é pró-reitor de Pós-Graduação da USP e membro do Conselho Superior da FAPESP.

Em todos os capítulos foram destacadas oportunidades para inovação relacionada a cada um dos desafios para a construção sustentável. “A inovação é uma ferramenta imprescindível e apenas com ela vamos atingir a sustentabilidade na construção civil”, afirmou.

Um dos temas tratados são os “edifícios verdes” e as listas de soluções e materiais “verdes”, que frequentemente são vistos como uma panaceia capaz de resolver todos os problemas. Os autores procuram desmistificar o tema.

“Procuramos fazer uma abordagem mais complexa e mais sistêmica dos desafios tecnológicos e políticos relacionados com os ‘edifícios verdes’. Tentamos discutir o uso correto das certificações, mostrando que elas não são uma panaceia, mas um instrumento importante que deve ser discutido a fundo”, disse Agopyan.

O livro aborda o tema dos materiais e componentes, destacando os limites das listas e recomendações de “materiais verdes”, realizando uma análise sistêmica do setor, com o objetivo de identificar os problemas reais, as demandas de políticas setoriais e as oportunidades para inovação.

“Enfocamos também ferramentas e métricas multidimensionais, tanto de análise do ciclo de vida simplificada, para facilitar a quantificação dos impactos ambientais, como dos impactos sociais”, explicou o autor.

Impactos climáticos

A construção civil, de acordo com Agopyan, tem grande impacto nas mudanças climáticas, devido ao grande volume de materiais que o setor consome e à interferência de suas atividades para o meio ambiente. O tema foi abordado em sua especificidade regional.

“Destacamos que países como o Brasil não devem se prender a modelos internacionais em relação aos impactos climáticos da construção civil. Nosso caso é diferenciado em relação às emissões de dióxido de carbono. Enquanto na Europa, por exemplo, essas emissões estão predominantemente ligadas ao uso dos edifícios, por necessidade de aquecimento, no Brasil as emissões estão mais ligadas à produção do edifício. Por isso, certos modismos comuns na área de construção sustentável não se adaptam à realidade do país”, destacou.

Um dos focos da obra Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil é a questão da relação entre informalidade e sustentabilidade social.

“A informalidade é uma questão crítica no setor de construção, tanto em relação à aquisição de materiais como na perspectiva da autoconstrução. Essa informalidade é um dos principais gargalos para a construção sustentável, pois faz com que nos afastemos dos preceitos do desenvolvimento sustentável”, disse Agopyan.

O livro, segundo o professor da Poli-USP, é voltado para o público em geral. “Os engenheiros civis e arquitetos são, naturalmente, o público preferencial, mas tentamos evitar o uso de tecnicismos e adotamos uma linguagem compreensível para os diversos atores envolvidos com o tema, como os investidores e incorporadores”, disse.

O livro será lançado às 18h30 desta quinta-feira (04/08), durante o 4º Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável no WTC Convention Center, na Avenida das Nações Unidas, 12.551, piso C, em São Paulo.

Fonte: Rede Noticia