Árvore gigantesca e secular exibe força da natureza na Amazônia

No Médio Amazonas, na região de Parintins, o rio exibe toda a sua grandeza. É onde ele corre na parte mais larga de sua calha. São dez quilômetros de uma margem à outra. Quanto mais avançamos, mais exuberante é a paisagem. É o coração da Amazônia brasileira.

A distância entre o ponto onde está a equipe de reportagem e a foz é de1.350 quilômetros. Ela está na área onde o Amazonas muda de nome. Desse local em diante, rio acima, ele passa a se chamar Rio Solimões até deixar o Brasil. O gigante, mais uma vez, mostra a sua força. Ele não deixa que suas águas barrentas se misturem com as águas do Rio Negro.

São os rios que descem da cordilheira que levam as águas barrentas cheias de sedimentos. As do Rio Negro são como um chá de folhas. É que as águas escuras vêm dos recantos mais escondidos da floresta. Bem perto do famoso encontro das águas fica uma das principais cidades da Bacia Amazônica.

A equipe chega a Manaus. O porto da capital amazonense é o mais movimentado do Norte. No passado, do lugar saía a borracha que o Brasil exportava até meados do século 20. Segundo o historiador Antônio Loureiro, o cais, de um1,5 quilômetro, invadiu o rio. Foi construído em cima de uma praia.

“Toda a área foi aterrada. Sem dúvida nenhuma, era uma praia de areia branca igual ao da ponta negra, uma baía de areia branca onde saíam três igarapés grandes, que também tiveram as suas regiões finais aterradas”, conta o Loureiro.

Foi uma época de muita migração. Ao todo, 40% dos habitantes de Manaus eram estrangeiros. A capital do Amazonas já foi a cidade mais cosmopolita do Brasil.

Na Manaus do começo do século 20, não havia material nem mão de obra especializada capaz de erguer um prédio sofisticado. Por isso a alfândega foi construída em Londres e transportadaem navios. Chegoudesmontada, como um quebra-cabeças. Até os tijolos vieram de lá.

A borracha chegou a representar 40% das exportações brasileiras. O dinheiro de tanta riqueza trouxe a sofisticação para o meio da selva. O Teatro Amazonas é o símbolo da prosperidade daquela época. Foi construído em 1896 com tudo o que havia de mais requintado: lustres de cristal, pisos de madeira nobre, mármores e tecidos finos.

“Era para mostrar a vitória do homem sobre a natureza, a dificuldade de dominar esta região”, aponta o historiador Otoni Mesquita.

Durante cinco dias, um bote de madeira coberto de palha será a casa da equipe de reportagem. Ela entra na reserva Pacaya Samiria, uma das mais importantes da Amazônia peruana, pela riqueza de fauna que existe no lugar.

Navegamos por rios de águas escuras. Às margens, aves vão aparecendo. Encontramos a garça real e seu curioso bico azulado, e o atento gavião carrapateiro. Parte da floresta está alagada. O dia passa tranquilo até o entardecer. São dez horas sem pisar em terra firme.

O mato não é um hotel de cinco estrelas, mas é onde vamos passar a noite. Cortamos o mato e amarramos uma rede de uma árvore à outra. Os mosquitos pegam logo na chegada. Pelo menos estamos em terra firme.

No nosso grupo, temos duas guias peruanas que cuidam de tudo. Vicky diz que nós vamos passar bem a noite porque a Dona Estela é cozinheira, e ela trouxe umas panelas e vamos ter até direito a uma comidinha quente. Ela faz macarrão com molho de galinha no fogo do acampamento. Estamos todos famintos depois de um dia inteiro no barco.

Às 21h15, é hora de dormir. No dia seguinte, de manhã bem cedo, navegamos novamente. Os pássaros aproveitam o amanhecer para se alimentar nas árvores. O japu tem penas pretas e amarelas.

Nesta etapa da viagem, em todos os lugares onde paramos para acampar, banho só é possível no rio. A água é fria, mas no calor dessa região se torna agradável. Você deve estar pensando: e os bichos, os animais que vivem no rio? Piranhas, jacarés, serpentes… estão por toda a parte. Mas o equilíbrio da natureza nessa região é tão forte e tão completo que os animais não atacam. Também deve ser muito raro alguém ir nadar nas áreas da floresta.

É uma floresta úmida e alagada em alguns trechos. No alto de uma árvore próxima, avistamos uma cigana, uma ave que também existe na Amazônia brasileira.

O guia explica que, nas asas, os filhotes de uma ave têm umas garras como as aves pré-históricas tinham há milhares de anos. Elas as utilizam para subir nas árvores. Mais adiante encontramos um gigante da floresta, uma árvore que os índios da Amazônia chamam de “árvore da vida”.

É o que se pode chamar realmente de uma árvore gigantesca e secular. A largura do tronco é grande. Olhando para cima não dá para ver o topo; é uma prova de que os madeireiros ainda não conseguiram chegar até o local. É a mata nativa preservada.

Quando o homem não interefe, ou se afasta da área que foi desmatada, em pouco tempo a floresta tenta retomar o seu lugar. Alguns anos depois ela sobe pelas paredes. Estamos na Vila Paricatuba, perto de Manaus. As raízes de uma árvore descem toda uma grande altura, procurando água na parte inferior. É um revestimento natural de parede.

Um velho casarão é uma herança da época em que os coronéis da borracha esbanjavam dinheiro. Era uma hospedaria de luxo para acolher os estrangeiros que visitavam a Amazônia. Foi abandonado há cerca de 20 anos. As suítes e os aposentos amplos e confortáveis foram divididos e viraram celas de presidiários considerados perigosos. Em outro momento, elas serviram de isolamento para as vítimas de hanseníase. Todo o material de construção foi importado. Os tijolos vieram de Portugal, e os azulejos, nas soleiras das portas, são franceses.

Fonte: globo.com

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1 Comentário

  1. Magnifico articulo nos transporta y hace vivir en esos pasajes y fragmentos de la historia de la bonanza cauchera de la Amazonia en general de estos países

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