A opinião é do Diretor Executivo do Pacto Global, Georg Kell. Ele esteve no Brasil recentemente para uma série de encontros com lideranças empresariais e governamentais com o objetivo de apresentar os planos do Pacto para a Conferência, que acontece em junho de 2012, no Rio de Janeiro.

O Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida pelo ex Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

Essa iniciativa conta com a participação de agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não-governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário.

Hoje já são mais de 6.000 organizações signatárias articuladas por 150 redes ao redor do mundo.

Kell demonstrou entusiasmo com os planos do Comitê Brasileiro do Pacto Global, que, segundo ele, podem fazer com que a rede brasileira de empresários signatários se torne a maior do mundo e também uma das mais qualificadas. Hoje, a rede do Pacto Global no Brasil conta com a adesão de quase 400 empresas.

A expectativa de Kell é mobilizar milhares de empresas e indústrias de todo o mundo para garantir que todos os continentes estejam representados na Rio+20.

Em entrevista ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ele fala sobre suas expectativas em relação ao evento e sobre como o empresariado, através das redes do Pacto Global, pode contribuir para o desenvolvimento sustentável.

O que o traz ao Brasil nesta ocasião?

O objetivo principal é mobilizar apoio para a Rio+20 e explorar oportunidades para que o Pacto Global possa contribuir em nível mundial para este evento.

Qual é a importância do Brasil nesse contexto?

A Rio92 foi um divisor de águas que nos apresentou uma nova maneira de atuar no âmbito da ONU e em muitos lugares ao redor do mundo. A idéia de desenvolvimento sustentável já se consolidou como algo incontornável e a comunidade empresarial mundial também descobriu a importância de incluir a questão da sustentabilidade nos negócios. Assim, acreditamos ser esta uma oportunidade histórica para fazer avançar a agenda da Rio+20.

Como o Pacto Global pode contribuir para a definição de temas mais precisos e concretos a serem discutidos na conferência do Rio de Janeiro?

O Pacto Global, através de suas organizações signatárias, vem trabalhando extensivamente em questões como a redução da pobreza. Além disso, temos apoiado a cultura de ação empresarial que está sendo implementada pelo PNUD em temas importantes para a sustentabilidade, como gestão da água, mudanças climáticas, boa governança, capacitação e empoderamento das mulheres, entre outros. Então, nós não vamos começar do zero. Vamos partir do que tem sido feito já há algumas décadas. Neste sentido, o trabalho do Pacto Global é altamente relevante para a Rio+20.

Que resultados específicos ou concretos você espera desta conferência?

Eu não posso falar em nome dos governos, mas posso afirmar que o setor privado, em especial os investidores e a sociedade civil, tem uma vontade enorme de progredir com as iniciativas individuais – as chamadas “abordagens de baixo para cima”.

Nós vivemos em uma era em que temos de dar uma chance para as mudanças sociais que vem de baixo para cima. Assim, eu acredito que a Rio+20 terá muito a ver com soluções concretas que são produzidas localmente e que podem evoluir para escalas maiores. Estou muito otimista de que a conferência vai promover muitas iniciativas novas, além de apoiar e ajudar a ampliar iniciativas sólidas que já têm viabilidade comprovada. A Rio+20 vai capacitar as pessoas e o setor privado para que adotem soluções de mais impacto.

As relações entre os países ricos e pobres estão mudando drasticamente com a entrada em cena dos países emergentes. Como você acha que o setor empresarial pode contribuir para este novo cenário da cooperação internacional?

Aqui vêm as boas notícias do setor privado. Há algumas décadas, o setor privado tem se movimentado em direção à integração global. O conceito de “nacional” não tem mais a importância que costumava ter: o mais importante é estabelecer cooperações, sejam elas Sul-Sul, Norte-Sul, Leste-Oeste.

A maioria das corporações, incluindo as pequenas e médias empresas, faz parte de uma valiosa cadeia conectada, em muitos casos, além das fronteiras nacionais. Eu acredito profundamente que o setor privado pode trazer uma contribuição positiva, mostrando, através de investimentos no comércio local e em práticas sustentáveis, como podemos conectar as pessoas e as nações e como reduzir a pobreza e cuidar do meio ambiente.

A ONU lançou recentemente o Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) 2011, que diz que o progresso tem sido alcançado em todo o mundo, especialmente na América Latina, mas que ainda há muito a ser feito para diminuir as desigualdades. Como é que o Pacto Global, em conjunto com o PNUD, pode contribuir para o alcance dos ODM?

A contribuição mais importante do empresariado a alcance dos ODM é investir de forma responsável, ser bem-sucedido, capacitar as pessoas e crescer. Para um empreendimento ser bem-sucedido, precisa ter meios suficientes para promover o crescimento inclusivo e atuar em um ambiente favorável ao empreendedorismo, promovendo, assim, um crescimento do setor informal e de pequena escala. Essa é, sem dúvida, uma contribuição importante para o progresso dos ODM. A ação empresarial é um exemplo e o PNUD é um defensor dessa ideia.

Não podemos esquecer que 1,4 milhão de pessoas vivem em condições de violência e ameaça militar, sem paz e sem desenvolvimento, de modo que nunca devemos esquecer de incluir em nossa a agenda o tema da paz. Bons governos também são fundamentais para o crescimento; a corrupção é uma realidade em 70 países e nós temos que fazer grandes progressos a respeito de boas práticas de governança. Se não tivermos bons governos, o campo empresarial não pode cumprir plenamente o seu papel na sociedade.

O Comitê Brasileiro do Pacto Global é formado por 31 empresas e instituições, entre elas Petrobras, Braskem, Souza Cruz, CPFL, Itaipu e Instituto Ethos, e conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que é atualmente o ponto focal da iniciativa no Brasil.

A conferência acontece de 4 a 6 de junho de 2012 no Rio de Janeiro. Seu objetivo é garantir um compromisso político renovado para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso alcançado e as lacunas ainda existentes na implementação dos resultados dos demais eventos importantes sobre o tema já realizados e enfrentar os desafios novos e emergentes.

Dois temas nortearão as discussões: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza; e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável.

Fonte: PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento