Documento de autoria de Salvador Pueyo e de Philip M. Fearnside, pesquisadores do IC3 e do Inpa, respectivamente, a respeito das consequências das Usinas Hidrelétricas para o efeito estufa. Fato subestimado em quase 80% do valor real.
RESUMO Hidrelétricas emitem gases de efeito estufa, sobretudo metano (CH4), formado pela decomposição de matéria orgânica sob condições anóxicas no fundo dos reservatórios. Uma parte do metano é liberada por ebulição e difusão através da superfície do reservatório, enquanto a outra parte é liberada através da água que passa pelas turbinas e pelos vertedouros. A emissão de metano que ocorre a partir da superfície do reservatório tem sido calculada em estimativas do órgão do governo brasileiro responsável pelo planejamento energético. O cálculo oficial usou uma lei de potência, que resultou em uma estimativa de emissão de CH4 76% menor do que uma média corrigida “básica” que representa a média aritmética das medidas que serviram como a base do cálculo. Expresso em comparação com o valor oficial, a aproximação da média aritmética é 320% mais alta. Mostramos que o ajuste aplicado aos números oficiais estava baseado em vários erros matemáticos e que o valor real deve ser maior, e não menor, que a média aritmética. Comparamos vários possíveis métodos para gerar uma estimativa “corrigida”, todos com resultados muito acima dos valores oficiais. Um método melhor foi identificado que indica uma emissão de superfície 345% maior que o valor oficial. Para os 33.000 km2 de reservatórios brasileiros, o impacto total da sub-estimativa das emissões de CH4 pela superfície da água dos reservatórios é próxima daquela gerada pela emissão da queima de combustível fóssil na grande São Paulo, enquanto a emissão total das superfícies de reservatório ultrapassa a emissão dessa cidade. Emissões da água que passa pelas turbinas e vertedouros representam um impacto adicional sobre o aquecimento global. Palavras-chave: Aquecimento global; barragens; Brasil; carbono; efeito estufa; metano.
Emissões de Gases de Efeito Estufa dos Reservatórios de Hidrelétricas – Implicações de uma Lei de Potência
Abstract
EMISSIONS OF GREENHOUSE GASES FROM THE RESERVOIRS OF HYDROELECTRIC DAMS: IMPLICATIONS OF A POWER LAW. Hydroelectric dams emit greenhouse gases, especially methane (CH4), which is produced by decomposition of organic matter under anoxic conditions at the bottom of the reservoirs. A part of this gas is released by bubbling and diffusion through the surface of the reservoir, and part from the water that passes through the turbines and spillways. The portion of the emission that occurs through the reservoir surface has been calculated in estimates by the Brazilian government agency responsible for energy planning. The official calculation used a power law that resulted in an estimate of CH4 76% lower than a corrected “basic” mean that represents the arithmetic mean of the measurements that served as the basis of the calculation. Expressed in comparison to the official value, the approximation of the arithmetic mean is 320% higher. We show that the adjustment that was applied in the official estimates was based on several mathematical errors, and that the real value should be higher, rather than lower, than the arithmetic mean. We compared various possible methods for generating a “corrected” estimate, all with results far above the official values. A best method was identified that indicates a reservoir-surface emission 345% higher than the official value. For Brazil’s 33×103 km2 of reservoirs, the total impact of the underestimate of surface emissions of CH4 is almost as large as the emission produced by burning fossil fuels in greater São Paulo, while the total emission of the reservoir surfaces surpasses the emission of this city. Emissions from the water that passes through the turbines and spillways represent an additional impact on global warming.
https://revistas.ufrj.br/index.php/oa/article/view/8124