Oferecer condições de sustentabilidade para os povos da Floresta Amazônica é objetivo de projeto da Petrobras
Acre “Encauchados de Vegetais” é a nova denominação da borracha produzida na Amazônia. Resulta de uma tecnologia social desenvolvida pelo Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (PoloProbio). Está sendo implantada em Terras Indígenas e em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, como o Seringal Novo Encanto, em Lábrea, Estado do Amazonas.
A técnica consiste na pré-vulcanização artesanal do látex e na adição de substratos naturais. Isto possibilita um composto homogêneo que pode ser utilizado na fabricação de bolsas, toalhas de mesa, embalagens, pinturas à mão com látex pigmentado em camisetas e artesanatos, além de uma diversidade de produtos e pequenos objetos de decoração e domésticos.
Antonilda Correia Guimarães é uma das pessoas entre os povos da floresta que foram capacitados com a técnica. Ela reside na sede do Seringal Novo Encanto, juntamente com seu esposo, Sebastião Guimarães, gerente da Unidade de Conservação. Com a tecnologia, ela fabrica objetos diversos, tais como toalhas de mesa, bolsas, porta lápis, suporte de panela, jogo americano, calçados, embalagens para presentes, entre outros. Na unidade, foram capacitadas 15 pessoas.
Com patrocínio da Petrobras, o projeto também está presente em Terras Indígenas tais como Kaxinauwa do Rio Humaitá, em Tarauacá (AC), Kaxarari de Vila Extrema, em Porto Velho (RO), Floresta Nacional do Tapajós, em Beltera (PA), entre outras, no total de 28 unidades produtivas nos Estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia.
Transferência
A tecnologia é de fácil transferência, utilizando processos artesanais e de saber popular. O 2º vice-presidente nacional da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico (Anede), responsável pelo seringal, José Roberto da Silva Barbosa, explica que é uma tecnologia simples, mas de largo alcance social. As capacitações ocorreram durante os anos de 2009 e 2010. Os custos de produção são baixos e não há uso de energia elétrica.
Comunidades de qualquer parte da Amazônia podem se valer da experiência para aumentar a renda das famílias e ainda valorizar e proteger a cultura local e a floresta. O coordenador regional da Novo Encanto no Estado do Acre, Mário Marques, destaca que o grande benefício do projeto está na perspectiva de deixar a floresta em pé, por meio de ações de sustentabilidade. “Esta tecnologia é certificada e premiada pela Fundação Banco do Brasil. Nossa meta é dar continuidade, com a capacitação de mais pessoas”, afirma ele. O projeto está dentro das ações da Anede para tornar o Seringal Novo Encanto auto sustentável. Nesta perspectiva, a entidade também promove expedições em trilhas na floresta. A partir de outubro, acontece a primeira expedição aberta para não sócios da entidade.
José Roberto explica que a meta é abrir o seringal para cientistas, ambientalistas e demais interessados. “Queremos criar no seringal um grande laboratório de pesquisa da fauna e da flora”, afirma. Já existe uma parceria com a universidade Federal do Acre, desde 2001, junto aos estudantes do Departamento de Biologia. “Agora queremos ampliar este trabalho, provando que a floresta pode gerar mais resultados se permanecer de pé, do que deitada, desmatada. A valorização da população local, como seringueiros, caboclos, castanheiras, é essencial, fortalecendo a organização desses povos por meio de cooperativas. Estas famílias devem permanecer na área, atuando como guardiões da floresta”, destaca.
Integração
A meta da Anede é chegar a realizar cinco expedições por ano ao seringal, como forma da promover a integração entre povos da floresta e ambientalistas e interessados.
Além dos produtos do “Encauchados de Vegetais”, é possível ampliar a produção de derivados da Amazônia tais como óleos essenciais, extratos, cascas de plantas, sementes e artesanatos, divulgando as propriedades medicinais e de estética da flora local.
Santuário
As expedições ao Seringal Novo Encanto possibilitam desligar o tempo veloz dos espaços urbanos, com suas poluições sonoras, visuais e atmosféricas, e adentrar no tempo da natureza, marcado pela harmonia de sons e da biodiversidade.
As trilhas têm cerca de 4Km floresta adentro. Numa delas, é possível chegar a um santuário ecológico de encontro de duas grandes árvores amazônicas, a Samaúma, considerada a “Princiesa da Floresta”, e o Apuí, um cipó que cresce de cima para baixo até tomar totalmente uma árvore hospedeira, formando grandes raízes no solo.
Fique por dentro
Reconhecimento
Uma tecnologia social que resgata o potencial econômico da seringueira para gerar trabalho e renda, preservando a floresta tropical na Amazônia. Assim pode ser resumido o projeto “Encauchados de Vegetais”, presidente em 28 unidades produtivas de Terras Indígenas e Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Já foram capacitados 370 índios Kaxinawá, Shanenawa, Kaxarari e Apurinã, e 150 seringueiros nos Estados do Acre, Rondônia, Amazonas e Pará. O projeto já recebeu os prêmios Professor Samuel Benchimol, promovido pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na categoria Econômico-Tecnológico (2006); Tecnologia Social, da Fundação Banco do Brasil, na categoria Região Norte (2007); Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, na categoria Inovação Social, Região Norte (2007); Prêmio Finep de Inovação, na categoria Tecnologia Social, Região Norte (2008); e Prêmio Equatorial, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (Pnud – 2008). São 520 postos de trabalho gerados e 20 novos produtos elaborados através de processos artesanais e de sustentabilidade.
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