Ibama treina brigada indígena para prevenir e combater incêndios florestais em Roraima

A mais nova brigada comunitária de combate a incêndios florestais no Brasil chama-se Turuka (Turucá) e é composta por indígenas da etnia macuxi, do extremo norte do estado de Roraima. Seu treinamento ocorreu na semana passada, ministrado por especialistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama. O nome da brigada é uma homenagem a uma montanha vizinha criada pelo deus Macunaíma, segundo o lendário local.

Brigada Indígena

O local escolhido foi a comunidade de Maturuca, na região das serras da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, localizada a 50 km ao sul da área urbana do município de Uiramutã, junto ao rio Maú, fronteira com a República Cooperativista da Guiana. Durante cinco dias, 35 indígenas das comunidades de Morro, Maturuca, Socó, Lilás, Pedra Branca, Laje, Urinduk, Uiramutã, Willimon e Wronkayen participaram de aulas teóricas e práticas sobre prevenção, uso racional do fogo e combate a incêndios florestais.

Todos os participantes, lideranças eleitas, moças e rapazes são egressos de cursos do Programa Agente Ambiental Voluntário, também ministrados pelo Ibama, configurando-se um treinamento continuado desses agentes, com ênfase na prevenção ambiental e no controle do uso do fogo, além de capacitá-los para executar ações socioambientais naquela região.

Consciência ambiental

O curso envolveu a parceria da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Conselho Indígena de Roraima (CIR), organismo que solicitou o treinamento dos indígenas, encarregou-se da logística e enviou para o local uma equipe comandada por sua coordenadora do Núcleo Ambiental, Sinéia do Vale, para ajudar a coordenar os trabalhos e servir de agente de ligação com as lideranças locais.

A comunidade do Maturuca, liderada pela segunda tuxaua, Eneisa Maria Melchior de Lima (que também frequentou o curso), ofereceu acomodações para instrutores, pessoal de apoio e alunos de outras comunidades.

O pleito do CIR decorreu da demanda dos próprio indígenas, preocupados em minimizar os danos ambientais decorrentes do tradicional uso do fogo para preparar roças, renovar pastos e encurralar a caça. Essa consciência ambiental é evidente nos jovens participantes. “Fui escolhido pela minha comunidade (Pedra Branca) para participar do curso por causa da minha preocupação com os incêndios. Agora, terei condições de ajudar a controlar o uso do fogo na minha comunidade”, disse Eronilson Ambrósio, no encerramento do curso.

Já Gilbernilson Andrade, do Maturuca, afirmou que “desde criança, estou envolvido com o meio ambiente. Primeiro foi com o lixo, que conseguimos organizar num sistema de coleta. Agora, com o fogo, que começa a diminuir nos últimos anos por causa da maior consciência ambiental dos parentes”.

Também, Tiago Castro, da comunidade do Morro, testemunha que há uma grande preocupação com as queimadas descontrolas entre os mais jovens: “Os parentes botavam fogo na roça. Se ele entrava na mata, eles deixavam rolar”, lamenta ele garantindo que “com esse curso, me sinto capacitado para orientar minha comunidade a controlar o uso do fogo”.

Área de risco

A região das serras no norte de Roraima é caracterizada por uma cobertura vegetal do tipo savana estépica, com uma média pluviométrica de 1.500 mm, concentrada entre os meses de maio a setembro. No restante do ano, o clima é muito seco com estiagens prolongadas, facilitando a propagação do fogo da queima de roças e da renovação de pastagens. A atividade predominante é a secular pecuária extensiva, herdada dos fazendeiros que ocuparam a região. A atividade agrícola reduz-se ao cultivo para subsistência de macaxeira, milho, arroz, batata-doce e abóbora, em roçados nas matas ciliares e ilhas de mata em meio ao cerrado.

Para o coordenador do Prevfogo em Roraima, o analista ambiental Joaquim Parimé, uma região com tais características necessita de ações de preservação ambiental, e a formação de uma brigada indígena voluntária “é uma inserção educativa ambiental inédita num local de uso do fogo em práticas tradicionais de cultivo, pecuária e caça. Estamos introduzindo novos conhecimentos e técnicas de controle e uso racional do fogo numa região de difícil acesso para o combate aos incêndios florestais ocupada por populações tradicionais”.

O treinamento foi ministrado pelos especialistas do Prevfogo Devalcino Araújo, do Distrito Federal, e Antônio Carlos Cattaneo, de Boa Vista. As atividades administrativas e de apoio foram desenvolvidas pelo analista ambiental Carlos Dantas, do Prevfogo local.

De acordo com a superintendente do Ibama em Roraima, Nilva Baraúna, o treinamento desses indígenas também visa a torná-los agentes ativos na sensibilização da população local sobre as consequências dos incêndios florestais, buscando inibir as queimadas para preparação de roças sem as mínimas precauções para controlar o fogo, além de preparar esses futuros agentes para promoverem atividades comunitárias com o fim de recuperar as áreas já degradadas.

A parceria Ibama/Funai/CIR deve treinar mais uma brigada indígena em novembro nas terras baixas da TI Raposa/Serra do Sol. Também estão em fase de planejamento cursos sobre sistemas agroflorestais e educação ambiental para enriquecer a formação dos agentes ambientais/brigadistas indígenas.

Fonte: Taylor Nunes – Ibama/RR

 

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1 Comentário

  1. ANDERSON DE SOUZA

    É MUITO IMPORTANTE ESSE TIPO DE ATITUDE POR PARTE DOS ORGÃOS DE GESTÃO AMBIENTAIS,

    GOSTARIA DE TER MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O INCÊNDIO O CORRIDO EM 1998, QUE FOI NOTICIA NO MUNDO TODO

    DESDE JÁ AGREDEÇO

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