Uma equipe de nove profissionais que trabalham nos Parques Nacionales Naturales (PNN) da Colômbia vieram ao Brasil participar, junto com os servidores da Funai, de uma formação em metodologias do sistema brasileiro de promoção e proteção a índios isolados e recém contatados. A capacitação, que incluiu uma expedição em campo para identificar vestígios deixados pelos índios, foi promovida pela Fundação Nacional do Índio (Funai), com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e dos PNN da Colômbia.
O curso foi realizado, de 28 de fevereiro a 12 de março, para atender à necessidade de aperfeiçoamento dos novos servidores da Funai lotados na Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, na região do Alto Solimões (AM). A participação dos vizinhos de fronteira se deu por solicitação de administradores de área dos parques nacionais colombianos que identificaram presença de índios isolados na região.
A primeira semana de formação foi de conteúdo teórico sobre a política e metodologia de localização dos índios isolados e técnicas de como interpretar os vestígios na mata. Em seguida, os aprendizes foram divididos em 3 grupos que partiram – acompanhados de mateiros experientes – para expedições educativas, onde colocaram em prática o aprendizado. Um quarto grupo, formado por indigenistas com domínio de selva e conhecimento de sobrevivência, constituiu uma equipe de vanguarda, o que dava segurança aos capacitantes e aos isolados.
“Aprendemos a identificar e interpretar os vestígios deixados pelos indígenas, a entrar no mato deixando poucas marcas, a respeitar o espaço”, conta a antropóloga Marina Ravazzi, técnica de políticas sociais da Funai, lotada na sede da Funai, que também participou da formação. Para ela, no entanto, “o mais importante foi compreender todo o processo. Isso faz com que a gente consiga realizar aqui (de Brasília) um trabalho mais afinado com as necessidades do trabalho de campo”, acrescentou.
Segundo Antenor Vaz, coordenador do curso e também coordenador de Índios Recém Contatados da Funai, a expedição cumpriu outros três objetivos, além da capacitação dos servidores. A vigilância, o monitoramento da terra indígena e o intercâmbio entre os profissionais dos dois países. “A equipe da Frente fez um ótimo trabalho de monitoramento e, pela primeira vez, conseguiu chegar a uma aldeia Korubo temporária”, comemorou. Essa aldeia fica entre o acampamento próximo ao rio, para onde os indígenas se deslocam durante a vazante para pesca, e a aldeia isolada. “Essa localização permitirá um conhecimento maior dos costumes do grupo”, avaliou. O trabalho de vigilância constatou que a área se mantém preservada e sem invasões.
Intercâmbio– Para Vaz, o trabalho conjunto dos dois países também foi proveitoso. “Nós passamos a entender como a Colômbia vem construido a política de proteção dos isolados. Percebemos que estão caminhando lado a lado com o Brasil para garantir os direitos dessas populações indígenas”.
A colombiana Eliana Matínez Rueda, administradora do PNN Rio Puré, considerou a capacitação uma oportunidade valiosa, pois não há uma política específica para proteção de índios isolados noaquele país. “Es importante y necesario conocer como Brasil desarrolla la política frente a indígenas aislados, pues si bien en Colombia tenemos un marco general de política que ayuda a la protección no hay desarrollos específicos. En este sentido el intercambio de informaciones – conocimiento, experiencias, formas de trabajo – nos aporta para la definición de la ruta que nos debe llevar a la generación de una política de protección de indígenas aislados en Colombia”, afirmou.
Não é a primeira vez que o Brasil é procurado para contribuir com a sua experiência na proteção de grupos indígenas que permanecem sem contato. Em 2008, 2009 e 2010, a Funai foi convidada pelo governo do Equador a expor sua política para esse setor.
Em 2007, a administração dos Parques Nacionales Naturales de Colombia iniciaram um diálogo com a Funai a fim de conhecer a política brasileira para índios isolados, a partir da informação de que havia indígenas não contatados nos parques colombianos. Desde então, indigenistas do Brasil e administradores de parques da Colômbia vêm trocando informações e experiências, culminando com a formação conjunta na Amazônia.
FONTE: FUNAI