Durante encontro sobre barragens, Cacique Raoni declarou que povo vai lutar contra obra de Belo Monte: “Meu povo é contra Belo Monte, meu povo quer brigar para não construir barragem. Isso preocupa. Branco pensa que índio é burro, não é burro não. Nós, índio, não vai deixar. Meu povo vai para o confronto”. O aviso, em tom ameaçador, foi dado ontem pela liderança do povo Kayapó, cacique Raoni Metuktire, no III Encontro Latino-americano Ciências Sociais e Barragens, que é realizado até amanhã no auditório Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Outras lideranças indígenas fizeram questão de sair de suas aldeias e engrossar o movimento indígena do cacique Raoni, que tem por meta paralisar a construção de Belo Monte: Josinei Nascimento Arara e Ozimar Juruna, de Volta Grande do Xingu; Megaron Txukarramãe, do Parque Indígena (PI) do Xingu; e Yabuti Matucti, também do povo Kayapó.
“Eu não falo Belo Monte, falo ‘Belo Monstro’, porque se acontecer Belo Monte, nós, indígenas, ficaremos definitivamente isolados, porque não tem condição da gente ir para Altamira”, disse Josinei Arara ao falar à plateia, em sua maioria, formada por acadêmicos.
Ele se declarou mais indignado ao perceber que os direitos dos povos indígenas não estão sendo respeitados no processo de construção da hidrelétrica, como por exemplo, “consultar a gente sobre o que pensamos dessa obra e o que ela pode fazer com nós”. Josenei deixou claro que os índios que vivem ao longo das margens do rio Xingu vão lutar até o fim, “role sangue ou não, nós vamos lutar”.
Yabuti Matucti, sobrinho do cacique Raoni, enfatizou ser contra a hidrelétrica, porque se a construírem vão aparecer novas construções e os prejuízos serão muito maiores. Ele ressaltou que todos os povos vão defender as suas terras, para deixar para seus filhos e netos, assim como a sua língua e seus costumes.
Na opinião dele, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann; e a presidente eleita, Dilma Rousseff, não querem saber dos direitos e das terras indígenas, nem do futuro do índio.
Ele afirmou que o interesse do governo é “ganhar dinheiro, exportar alumínio” e comentou não entender o porquê de Lula estar, agora, a favor da obra, quando há anos declarou-se contra. Ele concluiu a sua participação no evento, revelando que a pior coisa que Lula deixará para os índios é a hidrelétrica.
Procurador diz que tramitam nove ações contra a hidrelétrica
A argumentação das lideranças indígenas foi apreciada com entusiasmo pelos acadêmicos presentes ao evento, a maioria envolvida em movimentos contrários a Belo Monte. A preocupação dá-se, sobretudo, ao conflito que a construção da obra pode gerar entre brancos e índios.
Não é de hoje que os povos indígenas kayapós, xipaias, jurunas e araras falam sobre derramamento de sangue para conter a obra da hidrelétrica. Inclusive, eles já enviaram carta ao presidente Lula para manifestarem a sua insatisfação.
O procurador da República, Felício Pontes, acompanha essa luta indígena há mais de dez anos. Ele informou que tramita na Justiça Federal do Estado e também em Brasília um total de nove ações contra a obra, todas sob alegação de irregularidade no projeto e três delas referentes ao desrespeito aos direitos indígenas.
O procurador enfatizou que a ameaça dos povos indígenas em lutar contra Belo Monte, mesmo que seja por meio de confronto, deve ser encarada pela sociedade como uma preocupação que afeta a todos. Ele lembrou também que a revolta se dá porque foram eles os que tiveram os seus direitos mais desrespeitados.
Contou também que os mais atingidos serão as etnias que estão na região da Volta Grande, porque um trecho de 100 quilômetros do rio Xingu, porque ficarão sem água, considerando que ocorrerá o desvio do rio. Isso explica uma das maiores contestações dos jurunas, araras e kayapós, que em um único grito dizem que “a usina acaba com os peixes e com o transporte pelo Xingu e deixa a gente na miséria”.
FONTE: Clipping FUNAI